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LIVROS
Romance traz de volta todos os temores de criança
Medos encaixotados e empoeirados
LEDA CARTUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Sentir medo é
característica
de todo mundo.
Essas histórias de
que os corajosos
ou os heróis não
têm medo de nada não passam de
invenção. Não há
nada mais evidente do que esse
sentimento. Senti-lo começa
quando somos
crianças e não
conseguimos
dormir de noite
por causa de alguma coisa ou
quando víamos
filmes de terror e
depois não desgrudávamos do
travesseiro. Pois
medo que é medo
aparece já lá no
comecinho da vida, quando descobrimos que há
coisas que não conhecemos.
Medos infantis são lembranças
mal esquecidas que teimam em
voltar às vezes, por mais que a gente não perceba direito. O lado bom
é que, com eles, volta também um
pouquinho da infância.
Em "Minha Querida Assombração", um livro de Reginaldo Prandi
que acaba de ser lançado, esses medos estão presentes na forma de
histórias de terror contadas por
uma senhora chamada Dona Santa. Com um texto simples e fácil, é
um livro rápido de ler, que traz de
volta algumas de tantas coisas que
já esquecemos.
Um pai viúvo e quatro filhos vão
passar uma semana de férias num
hotel-fazenda, na tentativa de relaxar e de esquecer um pouco da rotina. O lugar fica numa cidadezinha distante, sem TV ou outro entretenimento que não a própria fazenda e -por que não?- as histórias que Dona Santa conta toda
noite, depois da janta. Acontece
que essas histórias têm um quê de
realidade, e seus personagens estão
todos espalhados pelo hotel, revelando-se nas noites estranhas,
quando se podem ouvir vozes,
choros e barulhos.
Apesar da certa obviedade da
narrativa (é fácil, sim, prever o que
acontece no final e como as coisas
se resolvem), é uma história gostosa para passar o tempo. Mesmo
sendo voltada mais para um público mais infantil, é um bom jeito de
o leitor mais velho se lembrar de
medos já encaixotados e empoeirados e até de conhecer melhor e
mais uma vez coisas que ouvíamos
há um tempinho.
É interessante também ler a nota
do autor no final do livro para conhecer a verdade que se esconde
nessa história toda.
Afinal de contas, sentir medo
não é nada mais do que desentender o que não conhecemos e,
quando somos crianças, conhecemos menos do que quando crescemos. A gente deita na cama, fica
olhando a linha de luz que passa
pela porta entreaberta, o barulho
do vento na janela que parece às
vezes qualquer outra coisa, a torneira pingando lá no fundo e os
carros passando lá atrás e, se a gente sente sede, é tão difícil levantar
para ir até a cozinha pegar um copo de água... não faz tanto tempo
assim e até hoje isso pode acontecer.
Que jogue a primeira pedra
quem nunca sentiu vontade de ter
uma cama dos pais por perto para
se esconder rapidinho debaixo do
cobertor.
"Minha Querida Assombração", de
Reginaldo Prandi e Rodrigo Rosa
Editora: Companhia das Letrinhas
Quanto: R$ 23 (144 págs.)
Leda Cartum, 15, é aluna da primeira série do ensino médio do Colégio Equipe e
publica seus textos no blog www.pedacodeunha.weblogger.com.br
ledacartum@hotmail.com.
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