São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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cinema

Anoitecer dos mortos

A adaptação de "Crepúsculo", como o livro, é apaixonante porém fraca

FRINI GEORGAKOPOULOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Como não julgar o livro pela capa, quando a capa diz tudo? Tentação: essa é a palavra que resume o enredo de "Crepúsculo" (editora Intrínseca), o best-seller escrito pela americana Stephenie Meyer que chega aos cinemas brasileiros na sexta-feira.
A saga de quatro livros que teve início com "Crepúsculo" -cuja capa traz duas mãos pálidas que seguram uma maçã vermelha- já vendeu mais de 25 milhões de exemplares e foi traduzida em 42 idiomas. Mas o longa dirigido por Catherine Hardwicke ("Aos Treze") não traz o mesmo encanto.
A história é simples: a jovem de 17 anos Isabella Swan -ou Bella, como prefere ser chamada-, filha de pais separados, vai morar com o pai, xerife de Forks, uma pequena e chuvosa cidade no Estado de Washington. Bella faz amigos rápido em sua nova escola, mas não se interessa realmente por nenhum até conhecer a família Cullen.
Os cinco jovens de aparência anormalmente perfeita prendem a atenção da jovem e não demora muito para ela se apaixonar perdidamente por um deles, Edward. Enigmático, lindo e aparentemente hostil à presença de Bella, ele se torna rapidamente o foco da obsessão da jovem.
A razão da hostilidade de Edward é a fragrância do sangue de Bella, que, para ele, é como uma forte e quase irresistível droga, algo que não é exatamente bem explicado no filme. E é estabelecido o tema: tentação. Edward precisa resistir à vontade de matar quem ama, e Bella precisa resistir seus impulsos, pois um beijo mais bem dado em Edward pode custar-lhe o pescoço.
Narrado em primeira pessoa, "Crepúsculo" é contado pelo ponto de vista de Bella, o que traz imediata identificação dos leitores (principalmente do público feminino), que descobrem com ela não somente que os Cullen são vampiros, mas como essa mitologia foi recriada por Meyer (nada de caninos pontudos e de só sair à noite!).
"Crepúsculo" é cativante, mas deixa a desejar no texto de seu roteiro. O livro conquista o leitor por seu tom introspectivo, que se perde ao longo do filme, repetitivo e quase amador em certos momentos.
Fãs de livros para sempre reclamarão de suas adaptações para o cinema, mas "Crepúsculo" não desaponta. Por mais que cenas e diálogos tenham sido adaptados e cortados, a essência escrita por Meyer está nas duas horas de filme.
O baixo orçamento aparente rendeu efeitos visuais toscos e que ferem o filme, com alguns ângulos de câmera, direção de atores e o timing de várias cenas -principalmente na grande luta- sendo os grandes pontos fracos do longa.
Por mais que os atores contratados tenham grande potencial, a diretora conseguiu extrair poucos momentos bons. Destaque positivo para a cena na qual os irmãos Cullen jogam beisebol e para o primeiro beijo de Edward e Bella.
O filme em geral satisfaz fãs radicais, mas deixa a desejar ao restante do público. A responsabilidade de adaptar para o cinema um livro adorado por uma legião de fãs é grande, e o time por trás de "Crepúsculo" até que fez um trabalho à altura do livro: fraco, porém apaixonante. Mas o futuro dos vampiros não é tão sombrio: o enredo de "Lua Nova", a seqüência de "Crepúsculo", é mais ousado, o que deverá aumentar o cuidado dos produtores com a franquia.


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