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livros
No ar rarefeito
Obra compila
textos de jovem morto aos 19 anos que vivia ligado a um cilindro de ar
DÉBORA YURI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cabelo desgrenhado,
barba rala, óculos
escuros e dois piercings na orelha. Assim era Lucas Caratin Amiky, que teve na semana
passada seu primeiro livro publicado, "Voar com os Pés no
Chão". Trata-se de uma coleção
de textos escritos em seu computador antes de sua morte, em
março de 2007, aos 19 anos.
Lucas morava em São Paulo,
estudava publicidade, começava a ganhar dinheiro com flyers
de festas e namorava; fazia tudo
grudado a um cilindro de oxigênio que, nos dois últimos anos
de vida, precisou ser usado 24
horas por dia. Como não dirigia, ia para a balada com o oxigênio e dizia que estava a bordo
de seu "ar-tomóvel".
"Ele vivia escrevendo, eu lia
e, como sou professora de português, pedia para ele corrigir
os erros. Ele falava que era liberdade literária", lembra a
mãe, Véra Lucia Caratin, que
organizou o material.
Liberdade literária ou não, o
livro traz textos curtos em prosa e poesia, que podiam ter saído do diário ou blog de qualquer adolescente, para o bem e
para o mal -alguns deles foram, de fato, postados por Lucas em seu fotolog. O uso de reticências, gírias e palavras em
inglês é recorrente, bem como
de rimas triviais (sonhar/amar/pensar/luar). O tom de
auto-ajuda e filosofia teen permeia boa parte das páginas.
Aos dois anos, Lucas teve
diagnosticada uma bronquiolite obliterante -infecção crônica do sistema respiratório, que
mais adiante afetou o coração.
Aos 17, passou a precisar de oxigênio em tempo integral. Chegou a ficar 36 dias em UTI e pesar 35 kg. Sem poder sair de casa durante boa parte dos dias e
noites, começou a fazer mosaicos, tocar violão ou filmar os
amigos que o visitavam. E continuou escrevendo ("O teclado
é meu saco de pancadas").
VOAR COM OS PÉS NO CHÃO
Lucas Caratin Amiky
Ed. Duna Dueto
R$ 20 (102 págs.)
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