São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2001

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CAPA

Grupo de jovens deixa de lado os programas certinhos pela diversão das produções ruins

"Eu curto TV trash"


Patrícia Santos/Folha Imagem
O estudante Marcos Diego Nogueira, 19, comenta programas ruins com amigos


FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O que não é trash na televisão de hoje?", pergunta João Paulo da Silveira Bueno, 26. Ele é fã do que chama de programas de TV trash, ou seja, aqueles em que a produção deixa a desejar, os assuntos são absolutamente irrelevantes, os apresentadores são figurinhas que despertam uma certa curiosidade ou aversão e o resultado de tudo isso, na telinha, torna-se divertido aos olhos de muitos jovens.
Seja de propósito ou sem querer, os programas considerados trash se tornam alvo do culto de gente que vê com humor o que muitas vezes é feito para ser encarado seriamente e vasculha canais obscuros atrás de programas desconhecidos com o tal perfil. A sede por novos programetes é tanta que acaba virando obsessão.
A palavra inglesa trash pode tanto significar "lixo" como "bobagem" ou "tolice". Por aqui é empregada para denominar um tipo de cultura que junta Silvio Santos, Zé do Caixão e Alborguetti (apresentador polêmico que comentava casos policiais com um porrete na mão e, hoje, grava programas apenas em Curitiba) com filmes B, pornochanchadas e programas de luta livre.
De tanto ser julgada como uma afronta ao entendimento e à perspicácia do telespectador, a programação de TV já ganhou muitos inimigos. Na última semana, circulou na internet brasileira um spam sobre a campanha "TV Turn Off Week", levantada pela revista "Adbusters", que pede a todos que deixem sua TV de lado na semana de 21 a 28 de abril. O lema é o seguinte: "Vá a um show, ouça um CD, leia um livro, encontre seus amigos, faça uma balada, toque um instrumento, visite uma exposição. Aproveite melhor o seu tempo!".
"A programação de TV aberta é muito comercial e banalizada. O "Domingo Legal", do Gugu, na verdade, é o programa mais trash que existe. Gosto mesmo é de tosqueira. Dou muita risada", conta o estudante Marcos Diego Nogueira, 19, que mantém um grupo de cerca de 20 amigos com os quais troca comentários sobre o que passou de "ruim" na TV durante o dia anterior.
O estudante Dênis Canals Akel, 24, passa três das 24 horas de seu dia na frente do aparelho de TV e é um dos integrantes da lista de e-mails de Marcos, pela qual circulam interjeições de todos os tipos sobre o que passa na TV. "Às vezes, chego a ligar para os amigos durante o programa para avisá-los de que é imperdível", brinca.
Dênis adora "Hermes e Renato", da MTV (veja programação abaixo). "Eles são os campeões do trash!", diz. Isso porque, na verdade, "Hermes e Renato" é um programa trash consciente. E faz questão de ser assim. "Tem gente que olha o trash como uma coisa horrível. Nós achamos que é algo debochado", esclarece Fausto Fanti, 22, o Renato da atração da MTV. "Sempre gostei de tudo o que pertence à cultura trash." Marco Antonio Alves, 22, o Hermes, completa: "Aquilo que é trash sem querer é muito engraçado. O pessoal não tem noção. Mas somos trash de propósito" (veja texto ao lado).
Poucos programas são trash na sua concepção. "Casseta e Planeta" tem seus momentos e "Chavez" parece pertencer à mesma classe, mas nunca se sabe. "Gosto do programa do Sergio Mallandro, de Gigantes do Ringue, de filmes B e muitos outros. A todas essas porcarias bisonhas eu tenho curiosidade de assistir e acabo me divertindo com isso", confessa Dênis.
João Paulo tem seu ícone trash. "O programa do Alborguetti era um clássico. Hoje gosto de uma rede do ABC, que retransmite a TVE, do Rio, e tem um programa, "Dr. Rock", que é como uma rádio televisada, no qual a câmera fica parada em um apresentador vestido de médico enquanto rolam umas músicas", dá a dica.
"São programas feitos com mais vontade e menos recursos, ficam mal executados e, por isso, engraçados", explica João. "Jovens cultuam esses programas porque o imprevisível sempre gera interesse. E gargalhadas."


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