São Paulo, segunda-feira, 16 de julho de 2007

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comportamento

Fora de moda

Jovens negam modismos e ao mesmo tempo criam uma tribo: a dos antimodinha

Júlia Moraes/Folha Imagem
Apesar do visual indie, Camila Amato, 19, é contra as modinhas


LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles não querem fazer parte de nenhuma tribo, adoram criticar aqueles que só seguem tendências e ficam revoltados quando suas bandas ou roupas preferidas caem no gosto popular.
Os antimodinha são capazes de abandonar seus artistas favoritos se eles caírem nas graças de patricinhas, de emos, de indies, de metaleiros, de góticos ou de seguidores de qualquer outra tribo atual.
Também deixam de freqüentar baladas invadidas por novatos. Eles querem exclusividade.
Acontece que, por serem cada vez mais numerosos, os antimodinha já estão sendo considerados a nova modinha da vez.
Por sua aversão aos modismos, a estudante Bárbara Szuparits, 18, já teve de abrir mão de baladas e de bandas. Fã de hardcore desde o início da adolescência, ela viu a cena que freqüentava ser engolida pelos emos. "Toda a ideologia do hardcore se perdeu", lamenta a garota, que curtia as letras politizadas do movimento surgido em Washington DC (EUA) nos anos 80.
Resultado: ela parou de ouvir bandas das quais era fã, como The Used e Glassjaw, e deixou de freqüentar lugares como o Hangar 110, o Atari (que já fechou) e o DJ Club.
Hoje, em sua coleção de CDs só entram discos produzidos até 2004, fase do hardcore que, segundo ela, é pré-emo.
Mas Bárbara esclarece: não critica os seguidores de modinha só porque fazer isso também virou moda. "Não fico fazendo campanha contra os modismos. Apenas não os sigo."
Outra que abandonou seus artistas preferidos é Amanda Guimarães, 16. "O problema é que as bandas acabam mudando o som para agradar a mais gente", diz a estudante, ex-fã de My Chemical Romance, Good Charlotte e NX Zero, bandas que considera hoje sinônimo de modinha. Para ela, o fato de uma banda ser desconhecida a torna ainda mais interessante.
Amanda critica o que considera falta de opinião em muitos jovens. "Aqui em Campinas, por exemplo, todo mundo achava aquele tênis Nike Shox horrível. Aí, só porque algum garoto popular começou a usar, todo mundo foi atrás. Ou a pulseirinha para ajudar as vítimas do tsunami. Ninguém usava aquilo pra ajudar coisa nenhuma. Pura modinha", defende.
Ela garante que não encaixa em nenhuma tribo, mas admite que se baseia no estilo de se vestir dos indies e na filosofia straight edge (contra sexo promíscuo, o consumo de bebidas alcoólicas, de drogas e de carne). "Eu só uso o que tem a ver comigo, mas não me encaixo no rótulo", diz a garota.
Ela reconhece que a atitude antimodinha já virou moda, mas ressalta: "Acho que o problema é quando as pessoas dizem ser uma coisa que não são só para entrar na moda. Eu não faço isso", conta.

Mundo virtual
Da mira dos antimodinha nem a internet se salva. Orkut, fotologs, Photoshop, verdadeiras paixões nacionais, também começam a ser abolidos do cotidiano desse pessoal.
"Fotolog banalizou. Não agüento mais. Fora que todo mundo se melhora com o Photoshop. Tira espinha, tira gordura. Acho ridículo", diz a roqueira Camila Amato, 19.
Já Thaís Silva Pinto, 19, que tem perfil no Orkut há três anos, acha que o site perdeu a graça depois que ficou megapopular. "As pessoas passaram a viver em função daquilo, ficam preocupadas com o que os outros vão pensar", diz a garota, que atualmente entra, no máximo, uma vez por mês no site.

Modinha antimodinha
No Orkut, já é possível encontrar quase mil comunidades que tratam do tema.
Há desde as que acusam artistas de terem virado modinha até as que os defendem desse tipo de acusação, sem contar as que simplesmente reclamam dos modismos. Todas com comentários inflamados.
E, assim, os antimodinha começam a ser criticados com base nos mesmos argumentos que usam para detonar seus desafetos. "É um círculo vicioso, porque as pessoas que odeiam modas acabam aderindo, sem perceber, a outro tipo de moda, que é o de odiar os estereótipos", diz o estudante Renato de Miguel, 19.
Fã de Linkin Park, ele afirma que continuou gostando da banda depois que ela ficou famosa. "Quanto mais gente gostando das mesmas coisas que eu, mais gente para debater", defende o estudante, que confessa também já ter aderido a algumas modinhas.
"Passei a ouvir Green Day porque muitas pessoas estavam gostando. Também comecei a gostar do escritor Bernard Cornwell depois que os livros dele se popularizaram no Brasil. E também li "O Senhor dos Anéis" só depois do filme."

Como fugir?
Se até ser contra a moda já entrou na moda, como fugir definitivamente do modismo e se sentir original?
"Acho que não dá para ser 100% original. Qualquer atitude é influenciada por algum fator externo", arrisca Renato.
Giovana Gomes, 15, discorda: "O importante é ser você mesmo, não seguir o que a mídia impõe e usar o que você gosta, mesmo que seja considerado modinha. Infelizmente, tudo que está em evidência acaba virando moda", diz a estudante, que já foi chamada de emo por causa do seu visual, mas nem por isso cortou a franja ou abriu mão da maquiagem. Nem sempre dá para fugir da modinha.


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