São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004

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MÚSICA

Em sentidos opostos, mulheres chegam ao primeiro álbum: o pop açucarado do grupo carioca Brava e o punk cheio de rancor e humor da banda paulista Biônica

Divididas entre amor e ódio

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Só de pensar em ter de conviver o tempo todo com cinco garotos, muitas meninas arrancariam os cabelos. Não é o caso de Paula Marchesini, 22, vocalista e líder do sexteto Brava, que estréia em CD fazendo um pop açucarado e cheio de amor, dúvidas e angústias. "Dei muita sorte, porque são caras maravilhosos. Não tenho nenhuma amiga que seja tão amiga quanto eles. Somos quase irmãos, eles me respeitam como se eu fosse homem", diz Paula, falando dos cinco integrantes que completam o grupo, que está na trilha do programa "Malhação", da Globo, com a faixa "Todo Mundo Quer Cuidar de Mim".
O grupo está junto desde 2002, mas foi só no ano passado que adotou o nome Brava, escolhido após uma lista de cem nomes, por ser uma palavra forte, curta e feminina.
Estudante de filosofia, Paula é também autora das doze letras que formam o CD de estréia. "Escrevo a partir de minha experiência pessoal e vou inventando o resto, mas nada é ao pé da letra. Comecei a compor aos 15 anos. Sempre escrevi poesias e contos, mas foi quando comecei a tocar violão que resolvi compor músicas."
Coincidência ou não, o grupo é produzido por Paul Ralphes que, no final dos anos 80, estourou no mundo todo atrás do baixo de uma banda que também tinha uma mulher no microfone. O grupo se chamava Bliss, o sucesso, "I Hear You Call", e a loiraça, Rachel Morrison. A banda veio se apresentar aqui, e ele não voltou mais.
"Gravamos de setembro de 2003 a março de 2004. Foi muito legal, porque o Paul orientou a gente em tudo. Ele lapidou bastante as nossas músicas e nos deu toques sobre o mercado. A gente estava perdido e não sabia direito o que fazer. Ele nos ensinou como lidar com a gravadora." Ela dá exemplos do que aprendeu com o produtor: "Temos de saber ser políticos, saber o que podemos e o que não podemos exigir. Por exemplo, se marcam um programa de TV que não é nosso estilo, preciso saber se faço ou não faço, mas também tem de saber ouvir a gravadora. Não podemos ser frios e também não podemos ceder em tudo".
Paula conta que já deixou de atender a um pedido da gravadora antes mesmo de terminar de gravar o CD. "Rolou um pedido para gravarmos uma cover, e eu insisti que não queria. Mas eles foram supercarinhosos e adotaram a proposta", diz.
A discoteca do Diabo está aberta, e no palco principal se apresenta a banda de "garage rock" paulistana Biônica (www.itsmysite.com/bionica), que lança o álbum de estréia pelo selo carioca Navena Records. "São Paulo Saloon: A Discoteca do Diabo" foi feito em apenas quatro dias e tem suas letras raivosas inspiradas principalmente na desordem da maior cidade do Brasil, como conta Joana C4, 33, que divide o vocal da Biônica com o guitarrista e tecladista Ramone, 20. Completam o grupo punk a baterista Helena Fagundes, 27, e a baixista Marina Pontieri, 20.
"Há a coisa adolescente, de ódio do Ramone. Ele tem raiva de muita coisa. Parece uma coisa vingativa, mas é para ser punk. Ao mesmo tempo, fazemos gozação e queremos ser bem-humorados. São Paulo inspira a gente, falamos sobre o caos da cidade", conta Joana, que, além de ser a mais velha, foi a última a entrar para a Biônica.
"Fui chamada para cantar uma música em francês, só para não ser em inglês, que é mais previsível. Acabei ficando. Mas as próximas músicas serão em português, para que as pessoas compreendam as coisas políticas e sociais que cantamos e também entendam nosso deboche", explica Joana.
Os shows da Biônica em São Paulo se tornaram lendários e até "cult", principalmente aqueles em que os integrantes tiraram a roupa em cima do palco. Joana conta que isso não é uma regra. "Depende do momento, pois a gente não ensaia. Tiramos a roupa por euforia, ou por deboche, ou para deixar o público chocado... ou até porque alguém da platéia falou para a gente tirar. A gente até tocou Raul Seixas porque pediram. Cada show tem uma surpresa. Usamos figurinos da rua 25 de Março e adaptamos para algo com a nossa cara. Procuramos uma estética para entreter tanto musicalmente quanto visualmente."
Sobre o fato de estimularem comportamentos violentos, Joana explica: "Isso é deboche, a gente é totalmente contra a violência. O Ramone defende a luta armada, não vê esperança no mundo e é a favor de situações limite para mudar o rumo político do planeta. Mas ele não defende a violência, é uma coisa mais verbal. Não somos a favor das armas. Preferimos falar que nossas letras têm rancor bem-humorado".

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