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MÚSICA
Em sentidos opostos, mulheres chegam ao primeiro álbum: o pop açucarado do grupo carioca Brava e o punk cheio de rancor e humor da banda paulista Biônica
Divididas entre amor e ódio
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Só de pensar em ter de conviver o tempo todo com cinco garotos, muitas
meninas arrancariam os cabelos.
Não é o caso de Paula Marchesini, 22, vocalista e líder do sexteto Brava, que estréia em
CD fazendo um pop açucarado e cheio de
amor, dúvidas e angústias. "Dei muita sorte, porque são caras maravilhosos. Não tenho nenhuma amiga que seja tão amiga
quanto eles. Somos quase irmãos, eles me
respeitam como se eu fosse homem", diz
Paula, falando dos cinco integrantes que
completam o grupo, que está na trilha do
programa "Malhação", da Globo, com a
faixa "Todo Mundo Quer Cuidar de Mim".
O grupo está junto desde 2002, mas foi só
no ano passado que adotou o nome Brava,
escolhido após uma lista de cem nomes,
por ser uma palavra forte, curta e feminina.
Estudante de filosofia, Paula é também
autora das doze letras que formam o CD de
estréia. "Escrevo a partir de minha experiência pessoal e vou inventando o resto,
mas nada é ao pé da letra. Comecei a compor aos 15 anos. Sempre escrevi poesias e
contos, mas foi quando comecei a tocar
violão que resolvi compor músicas."
Coincidência ou não, o grupo é produzido por Paul Ralphes que, no final dos anos
80, estourou no mundo todo atrás do baixo
de uma banda que também tinha uma mulher no microfone. O grupo se chamava
Bliss, o sucesso, "I Hear You Call", e a loiraça, Rachel Morrison. A banda veio se apresentar aqui, e ele não voltou mais.
"Gravamos de setembro de 2003 a março
de 2004. Foi muito legal, porque o Paul
orientou a gente em tudo. Ele lapidou bastante as nossas músicas e nos deu toques
sobre o mercado. A gente estava perdido e
não sabia direito o que fazer. Ele nos ensinou como lidar com a gravadora." Ela dá
exemplos do que aprendeu com o produtor: "Temos de saber ser políticos, saber o
que podemos e o que não podemos exigir.
Por exemplo, se marcam um programa de
TV que não é nosso estilo, preciso saber se
faço ou não faço, mas também tem de saber
ouvir a gravadora. Não podemos ser frios e
também não podemos ceder em tudo".
Paula conta que já deixou de atender a
um pedido da gravadora antes mesmo de
terminar de gravar o CD. "Rolou um pedido para gravarmos uma cover, e eu insisti
que não queria. Mas eles foram supercarinhosos e adotaram a proposta", diz.
A
discoteca do Diabo está aberta, e
no palco principal se apresenta a
banda de "garage rock" paulistana
Biônica (www.itsmysite.com/bionica),
que lança o álbum de estréia pelo selo carioca Navena Records. "São Paulo Saloon:
A Discoteca do Diabo" foi feito em apenas
quatro dias e tem suas letras raivosas inspiradas principalmente na desordem da
maior cidade do Brasil, como conta Joana
C4, 33, que divide o vocal da Biônica com o
guitarrista e tecladista Ramone, 20. Completam o grupo punk a baterista Helena Fagundes, 27, e a baixista Marina Pontieri, 20.
"Há a coisa adolescente, de ódio do Ramone. Ele tem raiva de muita coisa. Parece
uma coisa vingativa, mas é para ser punk.
Ao mesmo tempo, fazemos gozação e queremos ser bem-humorados. São Paulo inspira a gente, falamos sobre o caos da cidade", conta Joana, que, além de ser a mais
velha, foi a última a entrar para a Biônica.
"Fui chamada para cantar uma música
em francês, só para não ser em inglês, que é
mais previsível. Acabei ficando. Mas as
próximas músicas serão em português, para que as pessoas compreendam as coisas
políticas e sociais que cantamos e também
entendam nosso deboche", explica Joana.
Os shows da Biônica em São Paulo se tornaram lendários e até "cult", principalmente aqueles em que os integrantes tiraram a roupa em cima do palco. Joana conta
que isso não é uma regra. "Depende do
momento, pois a gente não ensaia. Tiramos
a roupa por euforia, ou por deboche, ou para deixar o público chocado... ou até porque alguém da platéia falou para a gente tirar. A gente até tocou Raul Seixas porque
pediram. Cada show tem uma surpresa.
Usamos figurinos da rua 25 de Março e
adaptamos para algo com a nossa cara.
Procuramos uma estética para entreter
tanto musicalmente quanto visualmente."
Sobre o fato de estimularem comportamentos violentos, Joana explica: "Isso é deboche, a gente é totalmente contra a violência. O Ramone defende a luta armada, não
vê esperança no mundo e é a favor de situações limite para mudar o rumo político do
planeta. Mas ele não defende a violência, é
uma coisa mais verbal. Não somos a favor
das armas. Preferimos falar que nossas letras têm rancor bem-humorado".
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