São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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CINEMA

"Houve Uma Vez Dois Verões" retrata jovens sem retoques

Não é mais um besteirol

DA REPORTAGEM LOCAL


Se você acha que a sua vida não tem nada a ver com a dos adolescentes quase sempre estereotipados dos filmes americanos ou com a imagem dos jovens pasteurizados pelo "padrão Globo" na televisão, então você já encontrou um ótimo motivo para se mexer e ir ao cinema ver "Houve Uma Vez Dois Verões", primeiro longa-metragem de Jorge Furtado.
Em cartaz em São Paulo, "Houve Uma Vez Dois Verões" consegue retratar os adolescentes, suas dúvidas e ansiedades com irreverência e fidelidade. Furtado constrói personagens que têm como trunfo uma aparente normalidade. São jovens sem afetação e sem rótulos estampados na testa, gente comum que você acha que pode encontrar a toda hora em qualquer lugar.
Produzido em vídeo digital, com baixo orçamento, o filme foi rodado em apenas 23 dias. No lugar de pirotecnias tecnológicas, Furtado usou duas armas: um roteiro bem estruturado, com um humor sutil, e um modo de filmar clássico, seguro, sem grandes invenções.
O ponto de partida de "Houve Uma Vez Dois Verões" é simples. Dois amigos, Chico (André Arteche) e Juca (Pedro Furtado) estão passando uma temporada em uma praia do Rio Grande do Sul no fim do verão.
Chico conhece uma menina mais velha, Roza (Ana Maria Mainieri), num fliperama. Chico transa pela primeira vez com Roza, mas, no dia seguinte a garota some. Eles só irão reencontrar-se depois, em Porto Alegre, quando Roza procura Chico para dizer que está grávida. A partir daí, o filme começa a apresentar uma série de reviravoltas e vai-se tornando cada vez mais interessante.
Sim, esse enredo do primeiro amor e da decepção amorosa é algo que aconteceu, acontece ou acontecerá com todos nós. E isso deixa os jovens atores à vontade para atuar de forma natural, sem ter de recorrer aos modelos fáceis do malhado, do surfista burro, do pit-boy violento, da patricinha, da moderninha ou do drogadito.
"Me senti totalmente à vontade para fazer o filme", conta André Arteche, 18. "Em muitas cenas, as coisas pelas quais o Chico passa eu tinha passado há pouco tempo. O filme é muito realista até para a gente", completa.
Pedro Furtado, 18, filho de Jorge Furtado, também concorda. "Há muitas coisas em comum com a nossa vida. Em primeiro lugar, esse negócio de veraneio, dos amigos que se encontram na praia, que é uma coisa bem comum. Mas há também os conflitos adolescentes, coisas que eu já tinha passado", diz. "Depois de ver o filme, alguns amigos me perguntavam se eu tinha ajudado meu pai a escrever o roteiro, mas eu não ajudei. É claro que houve algumas partes em que a gente improvisou."
"A gente ensaiou por dois meses e foi tudo supertranquilo", conta Ana Maria Mainieri, 23. "O Jorge disse para sermos nós mesmos, sermos naturais. Foi mais fácil para os guris, que estão vivendo isso. Eu tive de buscar meu lado mau caráter, meu lado cruel", diz.
(GUILHERME WERNECK)


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