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CINEMA
"Houve Uma Vez Dois Verões" retrata jovens sem retoques
Não é mais um besteirol
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você acha que a sua vida não
tem nada a ver com a dos adolescentes quase sempre estereotipados dos filmes americanos ou
com a imagem dos jovens pasteurizados pelo "padrão Globo" na televisão, então você já encontrou
um ótimo motivo para se mexer e
ir ao cinema ver "Houve Uma Vez
Dois Verões", primeiro longa-metragem de Jorge Furtado.
Em cartaz em São Paulo, "Houve
Uma Vez Dois Verões" consegue
retratar os adolescentes, suas dúvidas e ansiedades com irreverência
e fidelidade. Furtado constrói personagens que têm como trunfo
uma aparente normalidade. São
jovens sem afetação e sem rótulos
estampados na testa, gente comum
que você acha que pode encontrar
a toda hora em qualquer lugar.
Produzido em vídeo digital, com
baixo orçamento, o filme foi rodado em apenas 23 dias. No lugar de
pirotecnias tecnológicas, Furtado
usou duas armas: um roteiro bem
estruturado, com um humor sutil,
e um modo de filmar clássico, seguro, sem grandes invenções.
O ponto de partida de "Houve
Uma Vez Dois Verões" é simples.
Dois amigos, Chico (André Arteche) e Juca (Pedro Furtado) estão
passando uma temporada em uma
praia do Rio Grande do Sul no fim
do verão.
Chico conhece uma menina mais
velha, Roza (Ana Maria Mainieri),
num fliperama. Chico transa pela
primeira vez com Roza, mas, no
dia seguinte a garota some. Eles só
irão reencontrar-se depois, em
Porto Alegre, quando Roza procura Chico para dizer que está grávida. A partir daí, o filme começa a
apresentar uma série de reviravoltas e vai-se tornando cada vez mais
interessante.
Sim, esse enredo do primeiro
amor e da decepção amorosa é algo que aconteceu, acontece ou
acontecerá com todos nós. E isso
deixa os jovens atores à vontade
para atuar de forma natural, sem
ter de recorrer aos modelos fáceis
do malhado, do surfista burro, do
pit-boy violento, da patricinha, da
moderninha ou do drogadito.
"Me senti totalmente à vontade
para fazer o filme", conta André
Arteche, 18. "Em muitas cenas, as
coisas pelas quais o Chico passa eu
tinha passado há pouco tempo. O
filme é muito realista até para a
gente", completa.
Pedro Furtado, 18, filho de Jorge
Furtado, também concorda. "Há
muitas coisas em comum com a
nossa vida. Em primeiro lugar, esse negócio de veraneio, dos amigos
que se encontram na praia, que é
uma coisa bem comum. Mas há
também os conflitos adolescentes,
coisas que eu já tinha passado",
diz. "Depois de ver o filme, alguns
amigos me perguntavam se eu tinha ajudado meu pai a escrever o
roteiro, mas eu não ajudei. É claro
que houve algumas partes em que
a gente improvisou."
"A gente ensaiou por dois meses
e foi tudo supertranquilo", conta
Ana Maria Mainieri, 23. "O Jorge
disse para sermos nós mesmos,
sermos naturais. Foi mais fácil para os guris, que estão vivendo isso.
Eu tive de buscar meu lado mau
caráter, meu lado cruel", diz.
(GUILHERME WERNECK)
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