São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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FOLHATEEN EXPLICA

Morte de jovens por armas no Rio é maior que a de países em guerra

Soldados do morro são iguais aos das guerras

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O país não está em guerra declarada, mas os menores e adolescentes que trabalham para o tráfico no Rio têm características semelhantes às de crianças e jovens soldados em países que passam por guerras.
Essa foi a conclusão de uma pesquisa realizada pela ONG (organização não-governamental) Iser (Instituto de Estudos da Religião), do Rio.
Divulgada na semana passada, a pesquisa também mostrou que o número de mortes de menores vítimas de armas de fogo no Rio é maior do que as mortes de menores em países que passam ou passaram por situações de guerra, como Israel, Angola, Colômbia ou Iugoslávia.
Para ter uma noção melhor de como é trabalhar no tráfico, os pesquisadores entrevistaram 25 jovens de quatro favelas que tinham alguma função no crime organizado.
Eles contaram que, desde os 12 anos, já começam a querer trabalhar no tráfico. Dependendo da confiança do traficante superior, podem até receber armas, salários e funções mais importantes.
Nas entrevistas, os pesquisadores perceberam que a opção de querer trabalhar no tráfico é tomada porque as crianças vêem pouca perspectiva de ter acesso a bens como tênis, roupas de grife e outros objetos que, normalmente, qualquer jovem de classe média consegue comprar.
Eles buscam também status, segundo os pesquisadores, pois o fato de carregarem armas faz com que sejam temidos, respeitados e até admirados por uma parte dos adolescentes da favela.
Outra entrevista da pesquisa, feita com cem jovens de favelas que não trabalham para o tráfico, mostra que a divisão dos morros do Rio entre facções criminosas faz com que quase todos os moradores evitem frequentar outras favelas.
A pesquisa mostrou que 79% dos jovens disseram que não se identificavam com nenhuma fação criminosa, como o CV (Comando Vermelho), o TC (Terceiro Comando) ou a ADA (Amigo dos Amigos).
Mesmo assim, metade dos adolescentes disse que não entra em favelas controladas por facções rivais da organização que comanda o local onde moram.
Mesmo que não tenha nada a ver com uma das facções, isso faz com que um jovem que more no complexo do Alemão (zona norte), controlado pelo CV, não visite um colega do complexo da Maré (zona norte), comandado pelo TC.


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