São Paulo, segunda, 17 de março de 1997.

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Catapulta põe rock na roda

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Há tempos o rock deixou de ser um estilo para ser apenas ingrediente de mixes musicais. O grupo Catapulta desceu de Salvador para São Paulo para mostrar sua receita. Dessa vez, é o rock mesclado ao som das rodas de capoeira.
Ficou uma coisa devastadora. Longe de ser mais uma dessas réplicas de Raimundos que proliferam por aí, o Catapulta consegue soar nordestino e hardcore, e ainda passar muita credibilidade.
Falar com a banda reforça isso. Marcus Kiêta (guitarras), Moisés (voz, letras e uma baita presença cênica) e Baé (baixo) têm visual de trio skinhead do ABC paulista, mas basta abrirem a boca para que o sotaque e o deboche reafirmem a baianidade do grupo.
Baé tem muita experiência em tocar com trios elétricos. Muitas vezes, seu baixo soa como um instrumento de percussão bem grave, trabalhando junto com o bateirista Ary Bidal e o percussionista Anjo. "Eu conheço os dois há um tempão. Quando um toca, o outro já rebate o som e assim vai, como uma conversa", explica Baé.
"É, na Bahia você joga qualquer coisa na mão que o cara sai tocando. Se não sabe batucar, não é baiano", resume Moisés, o grande contador de histórias na banda.
Vivido em rodas de capoeira, trios elétricos, praias, cordel e bares de beira de estrada, Moisés passa suas experiências para as letras.
A pesadíssima "Puêra", uma das músicas do primeiro CD da banda, que sai esta semana pela gravadora Roadrunner, traz os cantos de desafio dos capoeiristas emoldurados por puro hardcore.
Outra pérola do álbum é a regravação de "Retirantes", de Dorival Caymmi e Jorge Amado. É a famosa canção que abre com os versos "Vida de nêgo é difícil, é difícil...", célebre tema de novela que quase virou funk metal com o Catapulta. Tem tudo para ser sucesso radiofônico. Na semana passada, o grupo gravou em São Paulo o videoclipe para "Retirantes".
Conhecido por trabalhar com nove entre dez bandas do novo rock nacional, o produtor Carlos Eduardo Miranda foi chamado pela Roadrunner para guiar os baianos no estúdio. E o trio ganhou o produtor na primeira audição.
"Véio, nunca tinha visto isso. A coisa mais difícil é você encontrar uma banda assim, pronta. Você não precisa mudar nada, os caras já estavam preparados", diz Miranda, que se divertiu fazendo rodas de percussão com a banda durante os intervalos de gravação.
Quem escutar o álbum de estréia da banda também vai se divertir.

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