São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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>>Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

O vilão do videogame

SE VOCÊ ACHA que conhece o significado das expressões "marrento", "arrogante" e, por que não dizer, "zé ruela", então você não conhece Billy Mitchell, o intragável vilão do documentário americano "The King of Kong", sobre os bastidores de um campeonato mundial de videogame.
Como assim, um vilão num documentário? Vilão não é coisa de ficção? Normalmente é, mas o roteiro de "The King of Kong" é tão bem construído que bota o espectador para torcer. De um lado, o pilantra Billy Mitchell, um jeca que se acha. Do outro, o boa-praça Steve Wiebe, um jeca que não se acha.
Mitchell foi o primeiro recordista mundial do videogame para fliperamas "Donkey Kong". Dono de uma rede de restaurantes e de uma fábrica de molho de pimenta (mas comportando-se como se fosse trilionário e ganhador de um Nobel), reinou durante anos no universo do "Donkey Kong".
Até que, um dia, Wiebe, professor de ensino médio, alguém que nunca deu muito certo na vida (quase um bom atleta, quase um bom aluno, quase um bom músico), ouve falar de Mitchell no rádio e pensa: "Eu consigo bater esse recorde". E bate, jogando em casa, numa máquina que instalou na garagem.
A partir daí, inicia-se uma operação para desqualificar seu resultado e manter Billy Mitchell como recordista. À frente, o Twin Galaxies, registro oficial de recordes de videogames -e também uma espécie de fã-clube informal de Mitchell. Ou seja, 100% interessado em derrubar o pobre Wiebe. Disposto a mostrar que era legítimo, Wiebe vai três vezes à cidade de Mitchell, na Flórida, para um duelo cara a cara, num megafliperama.
Prepare-se para um final surpresa. Gente solitária, derrotada, insegura, tendo como pano de fundo aquelas paisagens americanas sem identidade, que poderiam ser na Flórida, em Ohio, em Iowa, em Wyoming. "The King of Kong" está à venda na amazon.com. Há maneiras bem piores de você gastar seu dinheiro.

CD PLAYER

PLAY - "We Carry On", Portishead
Sexta faixa do novo álbum, "Third". É o Portishead mais aflitivo, urgente e desesperado do que nunca.

PLAY - "Machine Gun", Portishead
Oitava faixa, faz jus ao título, metralhadora. Portishead dispara com alvo certo: nossos corações.

PAUSE - "Third", Portishead
No álbum que vazou na web, ainda falta aquela polida final no mix. Pelo menos eu espero que falte.


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