São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2000


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Escravidão trouxe 3,5 milhões de negros

especial para a Folha

O tráfico de escravos para o Brasil teve início no século 16. Entre 1550 e 1850, chegaram ao Brasil cerca de 3,5 milhões de escravos trazidos da África, especialmente de Guiné, Costa do Marfim, Mali, Congo, Angola e Moçambique. Os africanos traziam sua cultura, língua e costumes.
A mistura da cultura afro com a dos povos europeus e indígenas que já habitavam o Brasil foi responsável pela formação da identidade brasileira. Música, idioma, culinária, festas populares, enfim, todas as manifestações culturais do Brasil provêm dessa mistura.
Ao completar 7 anos de idade, a criança negra já era considerada apta a realizar alguns serviços. Aos 14, ela trabalhava tanto e da mesma forma que um adulto.
Quando o negro não conseguia trabalho nas minas ou nas lavouras, tentava arrumar algum serviço como carpinteiro, ferreiro, cozinheiro ou até mesmo músico.
O negro realizava esses bicos com o intuito de acumular algum dinheiro para, no futuro, comprar sua alforria.
A historiadora Julita Scarano, da USP, cita até o caso de negros que se tornaram enfermeiros.
E o que vestia um jovem negro? Dependia de vários fatores: do tipo de serviço que exercia ou do grau de importância que o seu senhor lhe atribuía, por exemplo. O visual mudava também de acordo com os trocados que o negro conseguia ganhar realizando bicos.
Os escravos que trabalhavam nas lavouras ou nas minas se cobriam, basicamente, de trapos. Alguns negros que trabalhavam na cidade tentavam se enfeitar seguindo o padrão da época: usavam coletes, chapéus com plumas, camisas e culotes.
O ex-escravo costumava marcar a sua diferença por meio da vestimenta. Alguns até usavam sapatos, artigo verdadeiramente de luxo para a época.
Na hora da comida, não havia grande variedade na mesa do brasileiro.
Em Minas, por exemplo, ainda segundo Julita Scarano, "o angu de fubá cozido na água, o feijão preto e, às vezes, carne ou toucinho não constituíam alimento somente do escravo, mas também do preto e do mulato livre, e até mesmo do branco pobre".
Os negros escravizados participavam das comemorações religiosas dos brancos, como missas, novenas, dias de santos etc. Era uma rara ocasião em que podiam descansar de seu pesado trabalho cotidiano.
O negro absorveu a cultura branca, mas, em vez de se render totalmente a ela, adaptou-a à sua própria bagagem histórica, cultural e religiosa. Exemplo: os negros passaram a cultuar santos da religião católica.
Cada santo correspondia a uma diferente divindade africana. Ogum, o deus guerreiro, correspondia a São Jorge; Iemanjá, rainha do mar, era Nossa Senhora.


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