São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2000


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SEXO

Camisinha surgiu há 3.000 anos e já foi feita de tripa de carneiro

ROSELY SAYÃO
Colunista da Folha

Será que podemos contabilizar 500 anos de uso da borrachuda no Brasil? Nem pensar. Primeiro que há 500 anos a camisinha nem poderia ser chamada por esse apelido, já que não era feita desse material.
A vulcanização, processo químico que torna a borracha natural elástica, resistente e insolúvel, e que permite a fabricação de camisinhas de látex, só foi descoberta em 1839. Quer dizer que a camisinha é mais nova do que o Brasil?
Não, a camisinha nasceu há mais ou menos 3.000 anos. Ela já foi feita de couro e marfim e usada pelos egípcios para aumentar a potência sexual masculina. Pelo jeito, a preocupação com o tamanho do pênis é tão ou mais antiga quanto a camisinha! Já teve camisinha feita de tripa de carneiro e de papel de seda untado com óleo.
O fato é que, só pouco depois do Descobrimento do Brasil, é que um anatomista italiano chamado Gabrielle Fallópio (aquele das trompas de Falópio) identificou o sistema genital feminino e criou a primeira camisinha para prevenir a sífilis. Essa camisinha era feita sob medida e revestia o pênis de linho. Hoje, as camisinhas de látex são muito sofisticadas: elas podem ter cheiro (chocolate, por exemplo), cor (preta, vermelha e até fosforescente), sabor (morango, maçã verde etc.), textura; podem ser secas ou lubrificadas; têm várias espessuras e até formato anatômico!
Não é à toa que a camisinha recebeu tanta atenção: ela foi e continua sendo o único método contraceptivo de uso masculino. Mesmo com tantas inovações, muitos homens ainda resistem ao uso. Eles dizem que diminui a sensibilidade e, por isso, deixaram para a mulher a responsabilidade de usar um método anticoncepcional.
O problema é que, depois de tanto tempo, hoje ela precisa ser usada pela mesma razão que motivou seu aparecimento no século 16: a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Sai a sífilis, entra a Aids.
Mesmo tendo um bom efeito contraceptivo, parece que a história da camisinha tem mesmo a ver é com a prevenção de doenças. Depois que a sífilis foi domada pelo tratamento com antibióticos e que a gravidez indesejada foi controlada com muita eficácia pelas pílulas anticoncepcionais, a camisinha caiu em desgraça: foi sendo esquecida cada vez mais, até que o vírus da Aids foi descoberto.
Agora não há escolha, já que o uso da borrachuda é a única maneira conhecida e eficaz de se evitar a transmissão do HIV na prática sexual. No mundo todo, há uma grande torcida organizada para que a Aids também possa ser domada, e os cientistas estão quase lá. Mas a Aids ainda não tem cura.
Quando tiver, serão outros quinhentos, e as pessoas poderão escolher qualquer método contraceptivo. Mas, enquanto não houver escolha, sexo só com camisinha!


Rosely Sayão, 48, é psicóloga. Se você tem dúvidas sobre sexo, escreva para o Folhateen ou para roselys@uol.com.br



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