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Alvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br
Se o governo cismar, o indie acaba no Brasil
Conhece Claudio Jorge Oliveira? É o nome mais
importante do rock brasileiro. Mas não toca guitarra nem canta. É executivo, coordenador de patrocínios à música da Petrobras. Ele tem a chave do cofre de onde sai o dinheiro para os maiores festivais de
rock indie no Brasil. Se Oliveira zerar a grana, ou a Petrobras decidir investir em coisa melhor, a cena roqueira "independente" acaba. No dia seguinte.
Para entender o indie estatal, um exemplo. Você, universitário, se considera representado pela União Nacional dos Estudantes? Claro que não. Há muitos anos, a
UNE é aparelhada por um partido, o PC do B. Fiel à cartilha stalinoide, os dirigentes da UNE só têm duas preocupações: manter-se no poder e fortalecer o partido.
Atualmente apoiam o governo. Estão se lixando para os
estudantes.
A lógica do indie estatal é a mesma. Depois que, no
Brasil, a indústria da música foi para o espaço, o Estado
virou o mantenedor do rock indie. E, quando o dinheiro
público começou a fluir, essa estrutura foi aparelhada
por quem já estava organizado.
O indie estatal construiu uma burocracia cheia de tentáculos. Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin), Coletivo Cubo, Circuito Fora do Eixo etc.
Várias entidades, poucos dirigentes.
Que fique claro: não acuso ninguém de pilantra, folgado, chupim do dinheiro público. Se chegaram aonde
chegaram, se aparelharam com tanta força os patrocínios da Petrobras e de secretarias de Cultura, é porque,
de fato e sem ironia, batalham e têm ideais.
Não tenho nada contra patrocínio estatal. Desde que
ensine o artista a andar e depois ele que se vire. Como no
Canadá, na Dinamarca, na Escócia.
Mas não é assim no Brasil. Como o cinema da época da
Embrafilme, o indie estatal virou as costas para o mercado. Não se importa em vender CDs, downloads ou ingressos. Com sua estética nacional-regionalista, não
quer ficar maior do que está. Não precisa de fãs, precisa
do governo.
Guarde esta coluna. Ela é uma raridade. Com honrosas exceções -como Thiago Ney, que também já criticou esse status quo na Ilustrada-, os indies estatais
contam com uma ampla rede de mídia amiga.
Jornalistas atuam como curadores em festivais da
Abrafin, organizam festas com bandas da Abrafin, produzem bandas da Abrafin, decidem "espontaneamente" bombar bandas em que a Abrafin aposta, até comem
de graça nos festivais da Abrafin.
Não acredite neles. Mas pode acreditar em mim. Eu
não dependo de Claudio Jorge Oliveira.
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