São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2010

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Alvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

Se o governo cismar, o indie acaba no Brasil

Conhece Claudio Jorge Oliveira? É o nome mais importante do rock brasileiro. Mas não toca guitarra nem canta. É executivo, coordenador de patrocínios à música da Petrobras. Ele tem a chave do cofre de onde sai o dinheiro para os maiores festivais de rock indie no Brasil. Se Oliveira zerar a grana, ou a Petrobras decidir investir em coisa melhor, a cena roqueira "independente" acaba. No dia seguinte.
Para entender o indie estatal, um exemplo. Você, universitário, se considera representado pela União Nacional dos Estudantes? Claro que não. Há muitos anos, a UNE é aparelhada por um partido, o PC do B. Fiel à cartilha stalinoide, os dirigentes da UNE só têm duas preocupações: manter-se no poder e fortalecer o partido. Atualmente apoiam o governo. Estão se lixando para os estudantes.
A lógica do indie estatal é a mesma. Depois que, no Brasil, a indústria da música foi para o espaço, o Estado virou o mantenedor do rock indie. E, quando o dinheiro público começou a fluir, essa estrutura foi aparelhada por quem já estava organizado.
O indie estatal construiu uma burocracia cheia de tentáculos. Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin), Coletivo Cubo, Circuito Fora do Eixo etc. Várias entidades, poucos dirigentes.
Que fique claro: não acuso ninguém de pilantra, folgado, chupim do dinheiro público. Se chegaram aonde chegaram, se aparelharam com tanta força os patrocínios da Petrobras e de secretarias de Cultura, é porque, de fato e sem ironia, batalham e têm ideais.
Não tenho nada contra patrocínio estatal. Desde que ensine o artista a andar e depois ele que se vire. Como no Canadá, na Dinamarca, na Escócia.
Mas não é assim no Brasil. Como o cinema da época da Embrafilme, o indie estatal virou as costas para o mercado. Não se importa em vender CDs, downloads ou ingressos. Com sua estética nacional-regionalista, não quer ficar maior do que está. Não precisa de fãs, precisa do governo.
Guarde esta coluna. Ela é uma raridade. Com honrosas exceções -como Thiago Ney, que também já criticou esse status quo na Ilustrada-, os indies estatais contam com uma ampla rede de mídia amiga.
Jornalistas atuam como curadores em festivais da Abrafin, organizam festas com bandas da Abrafin, produzem bandas da Abrafin, decidem "espontaneamente" bombar bandas em que a Abrafin aposta, até comem de graça nos festivais da Abrafin.
Não acredite neles. Mas pode acreditar em mim. Eu não dependo de Claudio Jorge Oliveira.


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