São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

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Filme é bem mais nojentão que o primeiro

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

O Capitão Jack Sparrow, de "Piratas do Caribe", é um desses personagens que têm alma e personalidades tão fortes que transcendem a história de que fazem parte, assim como o mafioso Michael Corleone, de Al Pacino, em "O Poderoso Chefão", ou Forrest Gump, de Tom Hanks, no filme de mesmo nome, e até Carrie Bradshaw, de Sarah Jessica Parker, na série "Sex and the City".
Quase sempre isso acontece quando há uma combinação de um texto bem escrito, com um bom ator sendo bem dirigido. No caso do pirata, isso acontece graças ao modo como Johnny Depp transformou um personagem que teria mais a ver com um homem das cavernas beberrão em um dos caras mais sexies, sacanas, extravagantes e diferentões dos últimos anos.
A crítica aplaudiu, o público invadiu os cinemas. Com o sucesso e o dinheiro em caixa, o estúdio abriu o bolso com vontade. Para a filmagem desta seqüência, o desfile de vilões e novos personagens, quase todos piratas fantasmas que venderam a alma ao Capitão Davy Jones (Bill Nighy) e estão condenados a viver como escravos até o fim dos tempos, parece um banquete de frutos do mar que demorou alguns anos para ser servido. Está tudo lá, polvos, caranguejos, camarões, lagostas, mas tudo estragado, fedendo e grudado em o que um dia foi um ser humano.
Como foi o capitão Jack Sparrow o principal motivo do grande sucesso do primeiro filme, desta vez as cenas foram escritas exatamente para que Depp mostrasse até onde pode levar a irreverência de sua criação. Em um dos melhores momentos, Elizabeth Swann (Keira Knightley) tenta convencê-lo a salvar Will Turner (Orlando Bloom), que ficou no navio fantasma, com o argumento de que, se ele olhar bem lá no fundo de sua alma, vai ver que é um homem bom. Sparrow responde, sem hesitar: "Todas as evidências apontam para o contrário", como se ser rotulado como um "homem bom" fosse a última de suas preocupações.
Mas o filme tem menos de Jack Sparrow do que o primeiro e mais, muitos mais personagens, além de uma dupla que aparecia bem pouco no primeiro filme: o pirata que tem um olho de vidro e seu amigo, que aqui ocupam uns bons 20 minutos, entre uma gag e outra, todas dispensáveis.
E, depois de duas horas e meia, a trama principal, assim como a paralela, termina sem conclusão. Isso dá um pouco de raiva, fica óbvio demais que você está em uma armadilha, da qual só vai conseguir sair se assistir ao terceiro filme da série (que por sinal está programado para estrear no mundo inteiro em maio de 2007).
No final da história, o espectador sai do cinema, sim, querendo ver outro "Piratas do Caribe". Mas talvez rever o primeiro, mais bem acabado e menos pretensioso que esta seqüência, e não o terceiro, que deve concluir todas as histórias tão obviamente cortadas ao meio. (TETÉ RIBEIRO)


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