São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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música

Cuiabá 41º

Sob um calor dos infernos, capital do Mato Grosso realiza quinta edição do festival Calango

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CUIABÁ (MT)

De boas intenções, Hell City está cheia. É por essa alcunha infernal que os roqueiros nativos se referem à quente Cuiabá, capital do Mato Grosso e sede da quinta edição do Festival Calango. Realizado nos dias 31 de agosto, 1º e 2 de setembro na área externa do Museu do Rio, na zona portuária, o evento recebeu 46 bandas independentes brasileiras (19 delas mato-grossenses) e uma uruguaia (o Supersónicos).
Nem todas tinham categoria para tocar nos dois palcos montados na arena, ambos com ótima qualidade de som. E nem tudo no evento correu às mil maravilhas: atrasos de duas horas por noite, uma tenda eletrônica que mais parecia uma barraca de pastel e não atraiu vivalma, público um tanto apático e inimigo do aplauso...
Mas o Calango deste ano serviu no mínimo para festejar o lançamento do CD de estréia do Vanguart e comprovar a força do trio instrumental Macaco Bong, uma espécie de Mars Volta sem poesia.
Tirando os dois heróis locais, a cena do Estado se mostrou pouco interessante. Por vezes, constrangedora. No segundo dia de festival, subiu ao palco o Lord Crossroad, um grupo de hard rock tão datado que faria o velhusco Made in Brazil soar vanguardista numa comparação. Entre as pérolas do repertório, uma homenagem às Tartarugas Ninjas, com menção ao Mestre Splinter e ao Destruidor no refrão.
Quem se saiu bem horas antes foi o Suposto Projeto, de Belém (PA). Após 56 horas viajando num ônibus nada confortável, os rapazes ofereceram um tostão de sua mistura de guitarrada com tecnobrega, duas vertentes sonoras populares entre os paraenses. "Mestre Vieira" e "Merengue Inflamável" deram nós nos cérebros e nas cinturas da audiência.
Prestes a cair na estrada ao lado de O Teatro Mágico na "Remelentos Tour" (referência à matéria negativa publicada na revista "Veja" recentemente), o Móveis Coloniais de Acaju, de Brasília, conseguiu a já tradicional resposta positiva da platéia com sua música cigana que às vezes parece ska, às vezes punk rock. Montage (CE), Astronauta Pingüim (RS) e Patife Band (SP) também não decepcionaram com sets cheios de provocações e bom humor.

Dogão chocante
Mas, se o festival abrigou bons shows e consagrou conjuntos competentes, caso do brasiliense Supergalo (formado por gente que já tocou ou toca no Raimundos, Rumbora e Maskavo Roots), também deu espaço a forasteiros ainda imaturos. Os casos mais emblemáticos foram os do gaúcho Pública, do cearense O Quarto das Cinzas e do carioca Manacá.
No final, o bravo Calango foi prestigiado por cerca de 5.000 pagantes somando os três dias, segundo a produção. Custou ao todo R$ 200 mil e enfrentou a dura concorrência da Micarecuia, micareta que tinha como atrações Babado Novo e Jammil e reuniu nove vezes mais gente. Tudo isso sob um calor que atingia os 41 graus!
O público era muito jovem. A maioria parecia ter entre 15 e 19 anos. Mas a triste realidade é que nenhum artista foi tão chocante quanto a iguaria oferecida na praça de alimentação do Calango. Um suspeitíssimo dogão cujos opcionais eram purê, batata palha e... frutas cristalizadas!!! Um alimento "Jesus me chama" digno de Hell City.


O jornalista JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR viajou a convite da organização do festival Calango.


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