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música
Cuiabá 41º
Sob um calor dos infernos, capital do Mato Grosso realiza quinta edição do
festival Calango
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM CUIABÁ (MT)
De boas intenções,
Hell City está
cheia. É por essa alcunha infernal que
os roqueiros nativos se referem à quente Cuiabá,
capital do Mato Grosso e sede
da quinta edição do Festival
Calango. Realizado nos dias 31
de agosto, 1º e 2 de setembro na
área externa do Museu do Rio,
na zona portuária, o evento recebeu 46 bandas independentes brasileiras (19 delas mato-grossenses) e uma uruguaia (o Supersónicos).
Nem todas tinham categoria
para tocar nos dois palcos montados na arena, ambos com ótima qualidade de som. E nem
tudo no evento correu às mil
maravilhas: atrasos de duas horas por noite, uma tenda eletrônica que mais parecia uma barraca de pastel e não atraiu vivalma, público um tanto apático e inimigo do aplauso...
Mas o Calango deste ano serviu no mínimo para festejar o
lançamento do CD de estréia
do Vanguart e comprovar a força do trio instrumental Macaco
Bong, uma espécie de Mars
Volta sem poesia.
Tirando os dois heróis locais,
a cena do Estado se mostrou
pouco interessante. Por vezes,
constrangedora. No segundo
dia de festival, subiu ao palco o
Lord Crossroad, um grupo de
hard rock tão datado que faria o
velhusco Made in Brazil soar
vanguardista numa comparação. Entre as pérolas do repertório, uma homenagem às Tartarugas Ninjas, com menção ao Mestre Splinter e ao
Destruidor no refrão.
Quem se saiu bem
horas antes foi o Suposto Projeto, de Belém (PA). Após 56 horas viajando num ônibus nada confortável,
os rapazes ofereceram um tostão de sua
mistura de guitarrada
com tecnobrega, duas
vertentes sonoras populares entre os paraenses. "Mestre
Vieira" e "Merengue
Inflamável" deram
nós nos cérebros e
nas cinturas da audiência.
Prestes a cair na
estrada ao lado de O
Teatro Mágico na
"Remelentos Tour"
(referência à matéria
negativa publicada na
revista "Veja" recentemente), o Móveis
Coloniais de Acaju, de
Brasília, conseguiu a já
tradicional resposta
positiva da platéia com
sua música cigana que
às vezes parece ska, às
vezes punk rock. Montage (CE), Astronauta
Pingüim (RS) e Patife
Band (SP) também não
decepcionaram com sets
cheios de provocações e bom
humor.
Dogão chocante
Mas, se o festival abrigou
bons shows e consagrou conjuntos competentes, caso do
brasiliense Supergalo (formado
por gente que já tocou ou toca
no Raimundos, Rumbora e
Maskavo Roots), também deu
espaço a forasteiros ainda imaturos. Os casos mais emblemáticos foram os do gaúcho Pública, do cearense O Quarto das Cinzas e do carioca Manacá.
No final, o bravo Calango foi
prestigiado por cerca de 5.000
pagantes somando os três dias,
segundo a produção. Custou ao
todo R$ 200 mil e enfrentou a
dura concorrência da Micarecuia, micareta que tinha como
atrações Babado Novo e Jammil e reuniu nove vezes mais
gente. Tudo isso sob um calor
que atingia os 41 graus!
O público era muito jovem. A
maioria parecia ter entre 15 e 19
anos. Mas a triste realidade é
que nenhum artista foi tão chocante quanto a iguaria oferecida na praça de alimentação do
Calango. Um suspeitíssimo dogão cujos opcionais eram purê,
batata palha e... frutas cristalizadas!!! Um alimento "Jesus
me chama" digno de Hell City.
O jornalista JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR viajou a convite da organização do festival Calango.
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