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ESPECIAL
Ana Ottoni/Folha Imagem
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Foto manipulada digitalmente mostra jovens utilizando a biblioteca Sérgio Milliet, no Centro Cultural São Paulo, na tarde de 6 de novembro, uma quinta-feira |
É comum ouvir pais e professores reclamando que adolescentes não gostam de ler ou que, distraídos pelo videogame, pelo computador, pelo celular, pela TV e
pelos amigos, deixam os seus livros mofando num canto. Para saber até que ponto isso
é verdadeiro, o Folhateen conversou com
educadores, escritores e jovens.
Nas próximas páginas, você vai saber o
que cada um deles pensa sobre essa relação
com as letras, além de conhecer um pouco
do que passa pela cabeça dos escritores que
fazem livros para o público adolescente e
de poder consultar uma lista de 16 das melhores edições de algumas das obras que
caem no vestibular.
Escolas têm de rebolar para incluir a literatura na rotina dos seus alunos
Como seduzir usando apenas livros
MARIJÔ ZILVETI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANTONIO ARRUDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Acabou de sair a nova versão do cultuado game "Tomb Raider". "Matrix Revolutions" já está espalhado em salas de
cinema pelo Brasil. O último modelo de
celular permite enviar mensagens rápidas com sua foto, voz e texto para seu paquera. O ICQ insiste em ficar apitando
na tela do seu microcomputador.
Mas essa reportagem não é sobre literatura? Eis a questão: saber em que espaço e em que tempo entra o livro em uma
sociedade pautada pela velocidade. Ler
exige concentração e que o aluno esteja
aparelhado, aquietado. O problema é
que esse ambiente de interatividade é o
oposto do necessário à leitura, segundo
Francisco Achcar, um dos maiores teóricos em literatura no Brasil. "Nessa sociedade multimídia, os estudantes querem
substituir o livro por atividades audiovisuais. Sem dúvida, isso é excludente em
relação à literatura."
Esse fenômeno da modernidade faz as
escolas rebolarem quando a meta é despertar a paixão pelo texto. Para abordar
Camões (1524?-1580), o Colégio São Domingos recorre ao músico Renato Russo.
No Anglo, a literatura de cordel é passada por sanfoneiros e repentistas. A análise que alunos duas escolas fizeram de "O
Auto da Barca do Inferno", de Gil Vicente (1465?-1536?), virou um filme.
Não bastasse essa parafernália de ferramentas utilizadas pelas 15 escolas particulares da cidade de São Paulo visitadas
pela reportagem, coordenadores pedagógicos e professores têm de conviver
ainda com o massacre do vestibular.
Sobre isso, Ana Lúcia Brandão, especialista em literatura infanto-juvenil, argumenta: "A formação industrial para o
vestibular faz com que os clássicos sejam
mal interpretados, levando a perder
muitos leitores nessa fase".
Se, na sétima e oitava séries, os educadores têm liberdade para trabalhar a literatura como um fenômeno universal
-com autores que vão de Miguel de
Cervantes (1547-1616) a James Joyce
(1882-1941)-, no ensino médio, as escolas são obrigadas a encontrar brechas para extrapolar as listas dos vestibulares. É
um conflito: o aluno que se deslumbrou
com escritores do mundo todo pode ficar preso a autores das literaturas portuguesa e brasileira no ensino médio.
Não bastasse a rigidez das obras escolhidas, parece que a literatura não é um
movimento contínuo, pois, no ensino
médio, o que "impera é a preocupação
historicista de trabalhar obras em periodização", diz Adriano Guilherme de Almeida, professor do Oswald Caravelas.
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