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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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ESPECIAL

Ana Ottoni/Folha Imagem
Foto manipulada digitalmente mostra jovens utilizando a biblioteca Sérgio Milliet, no Centro Cultural São Paulo, na tarde de 6 de novembro, uma quinta-feira


É comum ouvir pais e professores reclamando que adolescentes não gostam de ler ou que, distraídos pelo videogame, pelo computador, pelo celular, pela TV e pelos amigos, deixam os seus livros mofando num canto. Para saber até que ponto isso é verdadeiro, o Folhateen conversou com educadores, escritores e jovens. Nas próximas páginas, você vai saber o que cada um deles pensa sobre essa relação com as letras, além de conhecer um pouco do que passa pela cabeça dos escritores que fazem livros para o público adolescente e de poder consultar uma lista de 16 das melhores edições de algumas das obras que caem no vestibular.

Escolas têm de rebolar para incluir a literatura na rotina dos seus alunos

Como seduzir usando apenas livros

MARIJÔ ZILVETI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANTONIO ARRUDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Acabou de sair a nova versão do cultuado game "Tomb Raider". "Matrix Revolutions" já está espalhado em salas de cinema pelo Brasil. O último modelo de celular permite enviar mensagens rápidas com sua foto, voz e texto para seu paquera. O ICQ insiste em ficar apitando na tela do seu microcomputador.
Mas essa reportagem não é sobre literatura? Eis a questão: saber em que espaço e em que tempo entra o livro em uma sociedade pautada pela velocidade. Ler exige concentração e que o aluno esteja aparelhado, aquietado. O problema é que esse ambiente de interatividade é o oposto do necessário à leitura, segundo Francisco Achcar, um dos maiores teóricos em literatura no Brasil. "Nessa sociedade multimídia, os estudantes querem substituir o livro por atividades audiovisuais. Sem dúvida, isso é excludente em relação à literatura."
Esse fenômeno da modernidade faz as escolas rebolarem quando a meta é despertar a paixão pelo texto. Para abordar Camões (1524?-1580), o Colégio São Domingos recorre ao músico Renato Russo. No Anglo, a literatura de cordel é passada por sanfoneiros e repentistas. A análise que alunos duas escolas fizeram de "O Auto da Barca do Inferno", de Gil Vicente (1465?-1536?), virou um filme.
Não bastasse essa parafernália de ferramentas utilizadas pelas 15 escolas particulares da cidade de São Paulo visitadas pela reportagem, coordenadores pedagógicos e professores têm de conviver ainda com o massacre do vestibular.
Sobre isso, Ana Lúcia Brandão, especialista em literatura infanto-juvenil, argumenta: "A formação industrial para o vestibular faz com que os clássicos sejam mal interpretados, levando a perder muitos leitores nessa fase".
Se, na sétima e oitava séries, os educadores têm liberdade para trabalhar a literatura como um fenômeno universal -com autores que vão de Miguel de Cervantes (1547-1616) a James Joyce (1882-1941)-, no ensino médio, as escolas são obrigadas a encontrar brechas para extrapolar as listas dos vestibulares. É um conflito: o aluno que se deslumbrou com escritores do mundo todo pode ficar preso a autores das literaturas portuguesa e brasileira no ensino médio.
Não bastasse a rigidez das obras escolhidas, parece que a literatura não é um movimento contínuo, pois, no ensino médio, o que "impera é a preocupação historicista de trabalhar obras em periodização", diz Adriano Guilherme de Almeida, professor do Oswald Caravelas.


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