São Paulo, segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

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Alváro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

Os melhores e os piores de 2007

MELHOR DISCO de 2007:------ .

Melhores discos de 1997 lançados em 2007: "In Rainbows", Radiohead; "White Chalk", PJ Harvey. O Radiohead continua cerzindo com delicadeza suas texturas sonoras. PJ, agora ao piano, ainda canta as angústias femininas com sua voz (no sentido literário) única. Mas nenhum deles é um álbum que capture o espírito do tempo, nenhum deles só poderia ser de 2007. São excelentes mesmo assim.

Melhor disco de 2007 que eu só vou entender em 2008: "Untrue", Burial. Moleque inglês que não se apresenta ao vivo resolve a equação dubstep + Tricky + Moby + batidas assimétricas + emoção. Para ser compreendido ao poucos.

Melhor música de 2007: "Archangel", Burial. "Good at being alone", repete obsessivamente a letra. Patchwork digital que tangencia, sem nunca tocar realmente, o formato de canção.
Discos que começaram o ano entre os melhores, mas, a cada audição, ficam mais derrubados: "Neon Bible", Arcade Fire; "Myths of the Near Future", Klaxons. O primeiro parece estar derrapando na auto-importância. E o segundo é só truque (tão caprichado que, no começo, também me enganou).

Melhor disco de 2007 que só vou entender em 3007: "Fragments from a Space Cadet", Kenneth Bager. Colagens psicodélicas e orquestrações, engendradas por um produtor dinamarquês que -por alguma razão maluca- faz muito sucesso no circuito indie australiano. Vá direto à faixa -ou "fragmento", como prefere Bager- sete, "Les Fleurs". Trata-se de um cover da diva soul Minnie Riperton, entremeado com falas sobre as liberdades químicas e sexuais dos anos 60. Para completar a confusão, esse discurso sessentista está na voz de de Julee "Twin Peaks" Cruise. Sensacional.

Disco que num ano melhor passaria batido, mas em 2007 merece destaque: "An End Has a Start", Editors. A fonte é o Joy Division, e pelo menos a atitude é menos pretensiosa do que a das bandas desse estilo normalmente hypadas pela imprensa inglesa, tipo Interpol.

Melhor livro sobre música de 2007: "Redemption Song - The Ballad of Joe Strummer", Chirs Salewicz. A biografia definitiva de Joe Strummer, a voz da mais importante banda punk, o Clash. No livro, zero de mitificação ou eudeusamento. O Joe Strummer dessa biografia é humano e intenso, um poço elétrico de insegurança.

Disco que eu deveria ter incluído entre os melhores de 2007: "Baby 81", Black Rebel Motorcycle Club. Já me arrependo de não ter prestado mais atenção a este álbum em que os meninos parecem ter encontrado o equilíbro entre o rock barulhento e o blues viajante.

Melhor filme brasileiro dos últimos 25 anos: "Tropa de Elite", de José Padilha. Há exatos 25 anos prometi nunca mais assistir a um filme brasileiro (foi depois de ver uma fita chamada "Janete" -se você também tivesse assistido, entenderia minha decisão). "Tropa de Elite" quebrou a escrita. Será que comi mosca esse tempo todo?

Melhor filme de 2007: "O Hospedeiro", de Joon-ho Bong. Um molusco mutante devora seres humanos em uma metrópole coreana. Difícil imaginar que de uma premissa dessas possa emergir um filme tão humano e profundo. Em 2006, quando foi lançado na Europa, entrou na lista de dez melhores da revista francesa "Cahiers du Cinema".

Pior notícia de 2007: a volta do Led Zeppelin. Auto-indulgência, desconexão com a realidade, ênfase no virtuosismo instrumental... Tudo aquilo que o punk veio para destruir tinha no Led Zeppelin sua expressão máxima. Trinta anos depois, esse pesadelo esganiçado está de volta, com direito a respeito da crítica e a jovens artistas pagando pau. É a história do rock se repetindo como farsa.


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