São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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>> Álvaro Pereira Júnior
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O mundo (nem tão) novo de Mallu Magalhães

A GENTE já vai falar da moça do título acima. Antes, quero lembrar de um caso francês, de 1955: o da poeta de oito anos de idade, Minou Drouet.
Minou virou fenômeno quando poemas atribuídos a ela começaram a circular entre jornalistas e críticos. Era esperteza de um editor, Rene Julliard, que conhecera Minou por uma amiga que ensinava piano à criança. Julliard plantou notícias em jornais, soltou os tais poemas para alguns poucos e bons. Quando veio o livro, o agito já estava criado. Ainda não havia internet, mas já existia "hype".
Você já deve saber que Mallu Magalhães, 15, é o novo fenômeno num certo segmento da internet brasileira. E, coisa rara nesse universinho, Mallu parece ser realmente talentosa. Pelo menos é a impressão que deixam dois vídeos em que ela se acompanha ao violão, disponíveis em myspace.com/mallu magalhaes, e uma canção que dá para ouvir no mesmo endereço, "Tchubaruba".
Costuma ser zero minha paciência para esses "hypes" que copiam a mania inglesa de lançar gente cada mais jovem, para brilhar cada vez mais, e ser esquecida cada vez mais cedo. Mas, não sei por quê, fui conferir a página da Mallu no MySpace. E de lá não saí até agora.
A primeira constatação é que ela não é um prodígio técnico como, sei lá, Niccolò Paganini, que aos nove anos assombrava Gênova tocando seu violino alucinado na principal orquestra da região. Mallu manda mais ou menos no violão, além de fazer e cantar suas letras num inglês ainda fraco. O violão, ela praticamente só usa para marcar o ritmo -e se atrapalha quando tenta florear. No inglês, dá várias mancadas (a pior é dizer "chailofones", e não "zailofones", como seria certo, logo na primeira palavra da canção "Xylophones").
Mas Mallu compensa os vacilos com muita inteligência e senso melódico. A gramática pode ser duvidosa, alguns trechos, confusos, mas e daí, se compõe versos tão bonitos como esses de sua única música em português, "Vanguart": "Ah! Se eu fizesse alguma diferença/ Se eu curasse alguma doença/ Com uma força genial"?
Mallu é menina sensível e talentosa. Como existiram tantas meninas sensíveis e talentosas, ao longo dos séculos, que nem sonhavam com YouTube e MySpace.
Minou, a poeta prodígio da França, tinha nove anos quando uma revista a acusou de fraude (os versos seriam escritos pela mãe). Não fez carreira adulta e hoje vive reclusa num vilarejo. Mallu não parece ser uma fraude, mas, como Minou, já tem o peso do mundo -ou de um mundinho- nos ombros. Bonne chance.


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