São Paulo, segunda-feira, 18 de junho de 2007

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artes

Pichando a nobreza

Quatro artistas brasileiros de grafite pintam, na Escócia, um castelo mais antigo que o Brasil

Natalia Viana/Folha Imagem
A evolução da pintura externa desse castelo bem louco, na Escócia


NATALIA VIANA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GLASGOW (ESCÓCIA)

O barulho do spray é constante, e as latas vão se amontoando no gramado enquanto os grafiteiros paulistanos Os Gêmeos, Nina e Nunca vão colorindo mais uma parede. Até meados de junho, serão mais de mil latinhas usadas nessa empreitada, uma das mais inusitadas que eles já encararam. Em volta, nada de carros, nada dos rumores da cidade grande: apenas o som dos passarinhos. E, debaixo de cada sprayzada, o castelo de Kelburn, um dos mais antigos da Escócia, vai se tornando uma colorida obra de arte.
Mas como eles foram parar ali? A história poderia começar como os contos de fada: "Era uma vez o conde de Glasgow, que tinha um lindo castelo e dois filhos". Só que Alice e David Boyle não se parecem nada com antiquados filhos de nobreza. Ambos estudaram arquitetura e são sintonizados com a arte contemporânea. Por isso, ao saberem que as paredes do castelo onde vivem teriam que ser reformadas, decidiram grafitar toda a parte mais antiga, que data do século 13.
"Quando recebemos o convite, falamos, que legal, vamos pintar um castelo! Mas a gente não tinha noção de que ele era mais antigo que o Brasil!", diz o gêmeo Gustavo Pandolfo.
Alto e sempre sorridente, David Boyle conta que o spray brasileiro é perfeito: vibrante, imaginativo e cheio de personagens fantásticos. Mas ele e a irmã não queriam só final feliz: The Graffiti Project veio pra mexer na cabeça dos escoceses e quebrar preconceitos. Primeiro, a idéia de que grafite não é arte. Depois, que os castelos são uma coisa morta e devem permanecer intocados.
Paul Adam, 15, e Jimmy Scott, 18, são skatistas e fãs de grafite. Eles costumam ir até Glasgow para ver a arte. "O grafite brasileiro é melhor. Provavelmente eles têm mais chance de pintar e mais incentivo. Por aqui, todo mundo acha que é vandalismo", engana-se Paul.


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