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ARTE
Na 26ª Bienal de São Paulo, dupla de artistas faz "colagem" de pinturas de jovens como símbolo da obsessão do século 21
Juventude sobre tela
ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Imagine um editorial de moda. Meninas
altas, magras, bonitas. Meninos idem.
Todos jovens, com um olhar distante no
rosto e roupas modernas no corpo. E as posições? Algumas estão no contexto fashion.
Outras parecem ter saído de um livro de
história da arte da estante da sua casa.
Quem já visitou a 26ª Bienal de São Paulo,
no parque Ibirapuera, pode ter uma idéia
do que estamos falando. Essa é uma das
impressões que temos ao ver os trabalhos
da israelense Adi Rosenblum, 42, e do austríaco Markus Muntean, 42, na mostra.
A dupla apresenta três pinturas e um desenho em grande escala de pessoas -a
maior parte delas adolescentes- que mais
parecem ter saído de catálogos de marcas
famosas do que de uma obra de arte.
Adi Rosenblum afirma que a dupla escolheu mostrar figuras adolescentes atuais
devido à "obsessão das pessoas pela juventude", exemplificada em revistas de comportamento. "O fato é que nós vivemos em
uma sociedade que mostra, o tempo todo,
imagens de jovens lindos. As pessoas estão
completamente obcecadas por isso", diz a
artista.
Mas defende que essa é apenas uma das
muitas referências do trabalho, que deve
ser visto em "várias camadas". "Nós não
estamos tentando fazer o retrato de uma
geração. Nós usamos os jovens pelas suas
imagens e não queremos fazer um realismo
social", completa.
Outros elementos reforçam a intenção
dos artistas. Em cada tela, pelo menos uma
figura remete às representações do passado
ou até mesmo a uma situação religiosa
-como no caso da pintura exposta na Bienal, que mostra um menino segurando um
skate na mesma posição de Jesus Cristo
crucificado de pinturas sacras.
As imagens dos adolescentes são construídas como em uma colagem. A dupla de
artistas reproduz na tela a cabeça de um
modelo mostrado em uma revista. Essa cabeça será completada com o corpo de outro
modelo, de outra revista. Isso tudo é colocado em um cenário de uma terceira imagem, copiada de um anúncio publicitário
ou de uma pintura famosa, por exemplo.
"Nós queríamos reciclar imagens da cultura de massa e colocá-las em um contexto totalmente novo, ligado à pintura", afirma.
O novo contexto buscado pela dupla seria o
equivalente contemporâneo ao que pintores
-como o italiano Caravaggio (1573-1610),
sua forte influência- usaram no passado.
"Alguns falam que nós mostramos jovens
usando sempre roupas lindas. Mas, se você
prestar atenção nas pinturas do passado, vai
notar que os pintores também mostravam as
pessoas em suas melhores roupas. Nós estamos tentando fazer a mesma coisa, de uma
maneira atual."
Outra estratégia a que os artistas recorrem é
o uso de uma borda branca ao redor das telas,
que tem como intenção passar a idéia de que a
pintura não está completa. A dupla deixa para
o público a tarefa de pensar sobre o que mais
poderia estar ali.
Storyboard
Para completar a composição das telas da
dupla Muntean/Rosenblum, há frases no pé
de cada um dos quadros, que não exatamente
os explicam, mas fazem pensar.
Em um deles está escrito: "Fomos levados a
acreditar que os tempos mudam rapidamente
agora e que a história se move cada vez mais
rápido. Mas o tempo não muda. É o ritmo, a
nossa maneira de ler o tempo, que muda".
Adi explicou que as frases não são criadas
unicamente por eles. Assim como as imagens,
são copiadas aos pedaços. "Nós pegamos três
palavras de um livro, mais outras três de uma
revista e por aí vai."
Da maneira como estão dispostos, esses pequenos textos funcionam como um componente, quase independente, que deixa o trabalho próximo de HQs
e de "storyboards".
Os temas escolhidos
são bem genéricos
-amor, morte, amizade. Adi acredita que
isso faz com que a obra
possa ser entendida
em qualquer lugar do
mundo. "Além disso,
as revistas de moda e
comportamento estão
em todos os lugares."
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