São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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LIVRO

"Diários", do líder do Nirvana, Kurt Cobain, é lançado nos EUA e na Europa

Fúria secreta

NEIL STRAUSS
DO "THE NEW YORK TIMES"

"Não leia o meu diário quando eu estiver morto". A frase foi tirada do livro "Journals" ("Diários"), publicado nos EUA na semana passada pela editora Riverhead. "Journals" é uma coletânea de 27 cadernos de anotações e de pastas recheados de escritos pessoais de Kurt Cobain, o líder do Nirvana que se suicidou em 1994, aos 27.
A publicação de "Diários" é polêmica. Houve muitas críticas à divulgação desses textos, especialmente depois de eles terem sido vendidos por estimados US$ 4 milhões pelos herdeiros de Kurt Cobain (Courtney Love, 38, e por sua filha Frances Bean, 10).
Se é verdade que a intenção do autor de "Diários" não era o consumo público, por outro lado, eles dão novas pistas do que fez Cobain explodir e era previsível que fossem publicados um dia.
Historicamente, entretanto, esses excertos podem não representar com fidelidade os pensamentos do líder do Nirvana. Isso porque a edição dos textos foi supervisionada por Love e por seu empresário, o que levou a omissões de textos que continham críticas a ela e ao casamento dela com Cobain.
Os diários começam com uma carta do fim dos anos 80, em que Cobain revela a sua decisão de batizar de Nirvana a sua banda recente, e vai até uma nota escrita em papel do Hotel Excelsior em Roma, onde ele havia tentado o suicídio em março de 1994. No meio do caminho, há desenhos, listas de canções favoritas e até um currículo recheado de empregos de zelador. Também há esboços de camisetas, capas de discos e rascunhos de letras.
Do começo ao fim, os diários mostram o comprometimento de Cobain com as bandas alternativas que ele amava, como Young Marble Giants, seu desprezo pelos republicanos, pelos intolerantes e pelo mundo dos grandes negócios e a sua repugnância pelo pop dos anos 80.
Embora muito da atenção tenha sido focalizada em suas declarações de uso de heroína, muito mais interessante é o personagem revelado nas entrelinhas.
Crescer em um lar desfeito, ser zoado na escola até chegar à beira do suicídio e tentar lidar com a ansiedade sexual parece ter contribuído para o surgimento do atormentado Kurt Cobain, que odiava tudo que dizia respeito à cultura dominante. Contudo, para a sua surpresa, essa cultura acabou abraçando-o.



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