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LIVRO
"Diários", do líder do Nirvana, Kurt Cobain, é lançado nos EUA e na Europa
Fúria secreta
NEIL STRAUSS
DO "THE NEW YORK TIMES"
"Não leia o meu diário quando eu estiver morto". A frase foi tirada do livro "Journals" ("Diários"), publicado
nos EUA na semana passada pela editora
Riverhead. "Journals" é uma coletânea
de 27 cadernos de anotações e de pastas
recheados de escritos pessoais de Kurt
Cobain, o líder do Nirvana que se suicidou em 1994, aos 27.
A publicação de "Diários" é polêmica.
Houve muitas críticas à divulgação desses textos, especialmente depois de eles
terem sido vendidos por estimados US$
4 milhões pelos herdeiros de Kurt Cobain (Courtney Love, 38, e por sua filha
Frances Bean, 10).
Se é verdade que a intenção do autor de
"Diários" não era o consumo público,
por outro lado, eles dão novas pistas do
que fez Cobain explodir e era previsível
que fossem publicados um dia.
Historicamente, entretanto, esses excertos podem não representar com fidelidade os pensamentos do líder do Nirvana. Isso porque a edição dos textos foi supervisionada por Love e por seu empresário, o que levou a omissões de textos
que continham críticas a ela e ao casamento dela com Cobain.
Os diários começam com uma carta do
fim dos anos 80, em que Cobain revela a
sua decisão de batizar de Nirvana a sua
banda recente, e vai até uma nota escrita
em papel do Hotel Excelsior em Roma,
onde ele havia tentado o suicídio em
março de 1994. No meio do caminho, há
desenhos, listas de canções favoritas e até
um currículo recheado de empregos de
zelador. Também há esboços de camisetas, capas de discos e rascunhos de letras.
Do começo ao fim, os diários mostram
o comprometimento de Cobain com as
bandas alternativas que ele amava, como
Young Marble Giants, seu desprezo pelos republicanos, pelos intolerantes e pelo mundo dos grandes negócios e a sua
repugnância pelo pop dos anos 80.
Embora muito da atenção tenha sido
focalizada em suas declarações de uso de
heroína, muito mais interessante é o personagem revelado nas entrelinhas.
Crescer em um lar desfeito, ser zoado
na escola até chegar à beira do suicídio e
tentar lidar com a ansiedade sexual parece ter contribuído para o surgimento do
atormentado Kurt Cobain, que odiava
tudo que dizia respeito à cultura dominante. Contudo, para a sua surpresa, essa
cultura acabou abraçando-o.
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