|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
comportamento
Meu verão na lan
Enquanto muitos aproveitam as férias para tomar sol, os LANmaníacos vão bater cartão na frente do computador
EDUARDO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mês de dezembro,
férias escolares,
o solzão imenso
tomando conta
do céu e o calor
batendo forte. Essa é a época
perfeita para fazer aquela baladinha ao ar livre a que nunca se
pode ir durante o ano letivo,
descer para a praia, aproveitar
a animação tropical para descolar uma namorada, tomar sorvete, andar de bike, ir ao clube,
aos parques etc. Certo?
Errado. Ao menos no mundo
dos LANmaníacos. Para essa
turma, estamos mesmo é na
temporada ideal para aproveitar o tempo de ócio e se entocar
nos chamados "corujões" que
rolam nas LAN houses. São maratonas em que os jogadores
passam a madrugada inteira na
batalha virtual.
"Nas férias fica bem cheio, só
que lá pelo fim da tarde, porque
o pessoal dorme bastante e depois vem correr atrás do prejuízo", afirma Tiago Batista dos
Santos, 18. Para ele, que joga
desde os 13 e se considera "fanático", "jogar na LAN é muito
mais empolgante do que em casa por causa do clima. Dá mais
emoção, a gente sente a energia
da competição, coisa que em
casa não rola".
Vips
Tiago costuma passar de 4 a 5
horas por dia na LAN, o que lhe
custava boa parte da economia
pessoal até se tornar ajudante e
começar a jogar de graça. Os
vips são uma política em todas
as lojas que possuem clãs -os
times competitivos que as representam em campeonatos.
Se o cara mostrar que é craque
e ainda por cima for cliente assíduo, do tipo que passa a tarde
toda na LAN, ele acaba ajudando em tarefas simples e, em troca, ganha passe livre para treinar.
Ângelo Girardello, 17, por
exemplo, é gamer de carteirinha e já chegou a gastar R$200
por mês durante um tempo até
entrar para os clãs. "Com a grana que já gastei em LAN, daria pra comprar uns três
computadores", calcula o rapaz, que já fez parte de três
equipes diferentes: Shot,
Zero e Reload.
Não à toa, já que Ângelo
pratica todo santo dia
e, aos finais de semana, vira a noite
no corujão sempre
que pode. Ele conta
que já chegou a ficar 26 horas jogando direto, para desespero da mãe.
"Eu acho legal
que meu filho tenha esse hobby,
mas ele tem que
procurar outras
formas de se entreter, como ir ao
cinema, jogar
uma bola, sair
com os amigos.
Ele só pensa em
LAN house, o esporte dele é só
apertar botãozinho", reclama a comerciante
Ana Maria, 42.
Superexposição
Na visão do médico Jou Eel
Jia, clínico geral especializado
em saúde mental, o mergulho
no mundo virtual não é necessariamente algo ruim, mas casos de meninos que passam
longos períodos jogando podem ser aquilo que chama de
"narcotização da ansiedade",
uma forma de "fuga dos desprazeres" que faz o jovem esquecer
de si mesmo e criar uma espécie de segunda vida, onde ele
pode conquistar objetivos com
razoável empenho.
Isso, de acordo com o médico, prejudicaria as relações interpessoais e a formação do caráter. "É preciso ter regra, porque os games não são de todo
mau, já é até mesmo provado
cientificamente que eles podem ajudar no desenvolvimento das aptidões mentais, o que é
bastante positivo", fala Jia, que
já tratou de casos de estafa
mental e insegurança causados
pela superexposição aos games.
Nas férias, todo dia
Paulo Henrique Lima, 17, é
colega de Ângelo e freqüentador de uma casa de jogos no Ipiranga. Agora, nas férias, tem
ido à LAN uma vez por dia, mas
sua rotina não é sempre assim.
Durante as aulas, joga uma vez
por semana. Porém, sempre faz
a maratona do corujão, passando de 11 a 12 horas seguidas. "É
um hobby extremamente viciante", comenta ele, ao dizer
que tenta se policiar para não
desapontar os pais, que confiam nele para não passar dos
limites.
Lucas Nazue, 19, freqüenta a
LAN quatro vezes por semana e
não se considera viciado. "Mas
já fui muito." Por conta disso,
ficou mais de um ano sem jogar
e voltou a praticar em 2005.
Hoje, não joga mais que duas
horas por dia, mas mesmo assim ouve um monte em casa:
"Minha mãe odeia que eu jogue, fala que vou ficar maluco".
Texto Anterior: 02 Neurônio: Previsões previsíveis Próximo Texto: A turma da lan Índice
|