Você é genial e produtivo. Canta como um deus, compõe como poeta, tem quase dois metros de altura, é bonito.
Sua banda se chama Triffids, vem do Oeste da Austrália, e o mundo parece pequeno diante do seu talento e da sua ambição. Você chega ao país de onde os hypes se espalham, a Inglaterra, e é muito bem recebido.
Seus show lotam, os jornais de música competem em elogios a sua banda.
Mas você também bebe e se droga como um desesperado. Primeiro álcool e anfetaminas. Depois, heroína. O consumo aumenta quando a máquina de hype segue adiante e deixa você pelo caminho. A gravadora deu dinheiro, grandes produtores trabalharam com você. Você não tem nem 30 anos, ainda escreve e canta muito bem. Mas o sucesso de massas não veio.
Em 1996, você está tão debilitado, as drogas minaram tanto sua saúde, que você precisa de um transplante de coração. A cirurgia dá certo, mas você não larga nem o álcool nem as seringas.
Três anos depois, muito louco, você bate o carro. Sofre ferimentos leves, mas, dois dias depois, morre. Nada a ver com o acidente -foi uma overdose de heroína mais a rejeição ao coração transplantado que mataram você.
Você morreu um pouco antes de completar 37 anos. Vi um show seu, no verão de 86, em Londres. Suas canções amplas, de raiz folk, a voz profunda e bem modulada, seus dilemas barrocos entre fé e danação (pescados de Nick Cave, seu grande ídolo) nunca vão ser esquecidos. Sei que a Domino, gravadora do Franz Ferdinand, reeditou sua obra em CD. Esta semana, organizando a vida, encontrei vários discos seus.
Você se chamava David McComb. Muito obrigado.


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