São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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educação

Com as mãos no passado

Não acredite em filmes como os de Indiana Jones; a profissão de arqueólogo está longe daquela ação alucinada que se vê nos cinemas

Weimer Carvalho/Folha Imagem
Cristiane observa relíquia


JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na próxima quinta-feira estréia nos cinemas do mundo o quarto filme do arqueólogo mais malandro e querido de todos os tempos. "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" traz Harrison Ford na pele do velho "Indy", que dessa vez vem até a Amazônia enfrentar mortos e vivos, em busca de mais uma lendária relíquia arqueológica.
Quem já assistiu a um dos filmes da franquia e gostou, certamente já teve vontade de sair pelo mundo em busca de aventuras como as de Indiana. Mas será que na vida real é assim?
"Os arqueólogos sofrem com essa imagem. Ao contrário do que ele [Indiana] faz, a arqueologia não é uma caça ao tesouro, nem uma procura por riqueza", reclama o estudante Mauro Eduardo Moura, 20, que acabou de entrar na graduação em arqueologia da UCG (Universidade Católica de Goiás).
Por isso, Indiana e Rick O'Connell (interpretado por Brendan Fraser em "A Múmia"), seriam os chamados caçadores de relíquias e na realidade estão mais para bandidos do que para mocinhos.
Na prática, a arqueologia estuda os povos que já habitaram a terra, analisando objetos como vestimentas, adornos e armas e também restos mortais como ossadas humanas e de animais. A partir desses vestígios, os profissionais brasileiros tentam entender como era o modo de vida de uma população, em uma determinada época, que pode ser muito antiga (pré-histórica) ou posterior ao ano de 1500 (histórica), quando o Brasil foi descoberto.
Mesmo estando no primeiro período, Mauro já participa de aulas práticas quando vai a campo fazer pesquisas. Junto com um coordenador e ajudantes, que botam a mão na massa e fazem os buracos, eles procuram vestígios arqueológicos.
O material escolar para as aulas de arqueologia também não é nada convencional e tampouco conta com chapéu e chicote, os inseparáveis companheiros de "Indy". Na real, os alunos usam colheres de pedreiro, peneiras, pincéis, bússola, fita métrica e sacos plásticos para armazenar objetos coletados.
Ao contrário do que possa parecer, não é só sair cavando um buraco e pegando o que vier à frente. Mauro explica que há critérios a serem obedecidos durante a escavação.
"Cada buraco tem que medir um metro por um metro, e os bolos de terra são quebrados de dez em dez centímetros. Fazemos isso para depois saber em que nível foi encontrado o material." Tudo o que é retirado é levado para o laboratório, onde é datado e identificado.
Atualmente há muita oferta de trabalho no país, graças à resolução 001/86, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que exige que haja um estudo sobre os possíveis impactos na área em que se pretende construir uma grande obra, como uma hidrelétrica ou adutora.
Os arqueólogos então são chamados para checar se o local escolhido não é um sítio arqueológico. Por isso, a demanda da chamada arqueologia de contrato é grande. "Principalmente agora, que os PACs estão realizando tantas obras, falta mão-de-obra especializada", conta Cristiane Loriza Dantas, 26, do quinto período da UCG.
Apesar de ainda não ter o diploma, Cristiane já trabalha na área há seis anos. Como há poucas universidades que oferecem o curso de graduação, muitas vezes o caminho é optar por outra formação e depois por um curso de pós-graduação. "Durante a faculdade de história entrei em contato com a arqueologia histórica e quis estudar a pré-histórica. Então, fiz especialização em gestão do patrimônio", conta. Além do curso em Goiás, a Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco, no Piauí, e a Universidade Federal de Sergipe também oferecem o curso.
Para quem quer seguir a carreira, a professora do curso de arqueologia da UCG, Sibeli Viana, explica que existem diversos campos de trabalho. "O profissional pode atuar na arqueologia privada ou de contrato, dar aulas e fazer pesquisas em universidades e ainda ser curador de acervos e exposições em museus."


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