São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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POLÍTICA

Folhateen sai às ruas de Nova York e escuta opinião de jovens americanos sobre as eleições

Voto quente

Associated Press - 19.fev.2003
O estudante Bretton Barber, de Michigan, que foi expulso da classe por usar camiseta que traz Bush como terrorista


GUILHERME COUBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

O novo documentário do cineasta americano Michael Moore, "Fahrenheit 9/11", que estréia no Brasil no próximo dia 30, faturou US$ 23,9 milhões em seu fim de semana de estréia nos EUA, um recorde para o gênero. O filme é um ataque ao atual presidente dos EUA, o republicano George W. Bush, e à sua política internacional. Além de Moore, outros sucessos do verão americano chegaram às telas carregados de críticas ao estado das coisas no país hoje.
É o caso dos panfletários "Super Size Me" -uma sátira à cultura fast-food- e "Control Room" -sobre a campanha do governo Bush para demonizar a rede árabe Al-Jazeera no início da Guerra do Iraque.
Moore disse que quer impedir que Bush se reeleja nas eleições que acontecem em novembro. Mas será que seu filme, assim como tudo o que a cultura pop tem produzido com o intuito de alimentar um sentimento anti-Bush, vai influenciar a juventude americana na hora de votar?
De acordo com uma pesquisa publicada na semana passada na revista "The Economist", Bush e seu opositor, o democrata John Kerry, estão praticamente empatados nas intenções de voto (44% e 43%, respectivamente). Os números mostram também que a maioria dos jovens americanos está insatisfeita com o atual presidente. 58% dos eleitores entre 18 e 24 anos pretendem votar em Kerry, contra 26% em Bush.
O Folhateen saiu às ruas de Nova York para ouvir alguns adolescentes, e observou que filmes como o de Michael Moore não influenciam tanto a opinião dos jovens.
Heather Kaciubam, 21, votará em Kerry nas eleições de novembro. Ela não viu e nem pretende ver "Fahrenheit 9/11". "Pelo que li e conversei com as pessoas, é muito desrespeitoso com Bush. Não vou gastar US$ 10 pra ficar rindo do meu presidente."
Nick Ross, 17, teme que a distribuição internacional do filme contribua para aumentar o anti-americanismo que existe em outros países desde que a Guerra do Iraque começou. "Achei o filme muito enviesado e isso é ruim para a nossa imagem. As pessoas esquecem que os EUA têm muitas qualidades." Para Nick e para todos os entrevistados ouvidos nesta reportagem, a principal qualidade dos EUA é a liberdade.
Nancy Longman, 18, de Pittsburgh, votará pela primeira vez neste ano. "Ainda estou na dúvida entre Bush e Kerry. Mas não acho que as pessoas deveriam tomar essa decisão baseadas no filme de Moore. Ele é muito exagerado e parcial."
Matt Carey, 14, de Nova York, acha errado as pessoas julgarem o presidente pelo que viram em "Fahrenheit 9/11". "Ser presidente dos EUA não é um trabalho simples. O filme é injusto." Mas, quando questionado sobre o que faria para mudar seu país, ele diz: "Tiraria Bush da Casa Branca. Ele não representa bem a América".
Katie, 17, acha que os ataques terroristas a deixaram mais patriota: "Sempre gostei de viver aqui, mas os atentados fizeram com que eu amasse meu país de um jeito diferente, mais forte". Katie diz que verá "Fahrenheit 9/11" depois de ver "Shrek 2" e "Homem-Aranha 2". "Já sei quase tudo o que Moore vai mostrar no filme." Ela torce para que Kerry ganhe, mas não porque a política externa deva ser diferente: "Prefiro os democratas, porque prestam mais atenção no povo e no sistema de saúde".
Joane Daly, 18, de Nova York, acha importante que todos assistam "Fahrenheit 9/11" antes de votar: "Eu fiquei chocada com as ligações entre a família de Bush e a família de Bin Laden".
O filme pode ter deixado eleitores de Kerry mais convictos, mas não levou muitos republicanos ao cinema. Estudo da Nielsen mostra que foi mais assistido em Nova York, São Francisco, LA e Chicago, centros tradicionalmente democratas.


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