São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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esporte

Sai da frente

Adolescentes se unem aos pais em rali 4x4; após muita discussão, os mais velhos aprendem a confiar nos mais novos

JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Vanessa Becker tem 13 anos e já diz à sua mãe como dirigir um carro. Sua irmã Fernanda, 15, faz o mesmo com seu pai, que nem reclama. As duas garotas são alguns exemplos de adolescentes que participam de ralis 4x4, como o Mitsubishi Motosports. Realizado em Campinas na semana passada, a última etapa de 2007 estava cheia de jovens pilotos e navegadores como as irmãs Becker.
Elas, que ainda são menores de 18 e não podem dirigir, vão de co-pilotas exercendo a função de navegadoras. Com a ajuda de planilhas, de cronômetros e de totens (veja quadro ao lado), elas são as responsáveis por manter o carro no caminho certo e fazer com que os motoristas obedeçam às marcas de tempo e à velocidade estipuladas na prova.
Nesse tipo de prova, chamada de "regularidade", a habilidade dos participantes é mais importante do que a velocidade. Em três diferentes categorias, os carros têm os tempos exatos para passar nos postos de controle (PC). Escondidos atrás de moitas e porteiras de fazendas, os PCs marcam, com fotocélulas, quando cada carro passou. Quanto mais distante do chamado "tempo desejado" o carro estiver, mais pontos a dupla perderá. O vencedor é aquele que, no final da prova, tiver perdido menos pontos.
Numa prova em que o atraso ou a antecipação de cada décimo de segundo é levado em conta, o desempenho de navegadores, como Fernanda, é fundamental. A garota, que participou da prova ao lado de seu pai, Arcy Becker, já subiu ao podium três vezes em outras etapas realizadas pela marca. Pai e filha começaram a correr em 2006 e se saíram tão bem na categoria Turismo Light, para iniciantes, que já avançaram para a categoria Graduados, a mais difícil. "Fomos convidados a nos retirar", brincou o piloto.
Na categoria Turismo Light, a família Fanzeres participou da prova de um jeito pouco convencional. No volante, a estreante Letícia, 20; na navegação, a experiente Fernanda, 23. O pai, Sérgio Fanzeres, no banco de trás, de Zequinha. Esse é o apelido carinhoso dado a quem vai no banco de trás, uma brincadeira com o desenho Speed Racer. Zequinha é o macaco mascote de Speed, que sempre participa das corridas escondido no porta-malas.
"É o nosso Zecão", divertem-se as irmãs de Niterói. Mas nem sempre as sugestões e críticas dos pais são bem-vindas. Fernanda Becker, que hoje corre com o pai numa boa, conta que já teve problemas: "Na primeira vez brigamos tanto que quase tivemos que parar e voltar para casa".
Rafael Silveira também teve alguns momentos tensos por conta de pitacos do pai. "Disse a ele que tinha que confiar em mim como eu teria que confiar nele como navegador", contou Rafael. Problemas resolvidos entre os dois, o carro de número 231 ficou em 101º, na frente de 40 outros.
O motorista de Passos de Minas já tinha experiência em dirigir em estradas de terra e não atolou nenhuma vez. "Eu vou muito a cachoeiras com meus amigos e já estou acostumado com a lama", conta Rafael.
Mesmo para quem nunca viu uma estrada de terra e não consegue distinguir esquerda de direita, ainda há uma chance de subir ao pódium. A dupla que chegar por último, ou seja, o carro que completar todo o percurso e conseguir perder mais pontos durante a prova ganha o prêmio Indiana Jones.
"Costumamos dizer que são aqueles participantes que, além de errar, se perderam e pararam para tirar fotos", brinca Corinna Souza Ramos, diretora de eventos da Mitisubishi. O curioso é que algumas pessoas já entram na prova para disputar esse troféu, o que não é nada fácil. Enquanto os vencedores perdem 130 pontos em média, o Indiana Jones perde dezenas de milhares.
Na etapa realizada em Campinas levou o bem-humorado prêmio a dupla de Campinas, Fernando Peruz Evans e Milene Moreto, da Pajero de número 155. Uma possível explicação para essa vitória é que a equipe vinda de Campinas tenha usado o seu conhecimento da região, além de suas habilidades, para somar os incríveis 65.959 pontos que lhes garantiram o troféu.


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