|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
música
30 anos esta noite
Sex Pistols comemora três décadas
do lançamento de seu primeiro disco
MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM LONDRES
"Você já esteve em
um mosh pit?",
me perguntou
um tio loiro,
com dentes faltando e tatuagens. "Sim", respondi, mas nunca havia ido a
um show dos Sex Pistols. Depois de revolucionar a cultura
inglesa nos anos 70 com a fúria
do seu punk rock, Johnny Rotten, Paul Cook, Steve Jones e
Glen Matlock se reuniram para
um show comemorativo na
Brixton Academy em Londres.
Com um público lotado de
sobreviventes nostálgicos e
uma nova geração pegando emprestado o sentido naquilo que
não viveram, a casa foi abaixo.
Antes mesmo de Rotten entrar no palco com um visual
que parecia traje de dormir, o
público de 4.000 pessoas já estava louco. Chovia cerveja, cotoveladas e empurrões.
Tudo era compatível com a
impressionante energia da
banda, que, mesmo depois de se
separar nos anos 70, mantém a
atitude que os transformou em
um dos grupos mais famosos do
mundo.
Quem viveu a época, com
certeza não se esquece das
manchetes sensacionalistas,
dos palavrões, da cultura de alfinetes na pele e da controvérsia desses arruaceiros, que gritavam que não havia futuro para o país dominado pelo fascismo da monarquia e que não se
importavam com isso.
Barriga peluda
Mantendo um humor sarcástico e uma performance expressiva, Rotten trouxe de volta
um sentimento de rebeldia e
insatisfação, tão diferente do
dos dias de hoje, mas tão igual.
Isso tudo sem perder a
agressividade impecável de
seu vocal. Mostrando sua
grande barriga peluda com
orgulho, provou novamente que não há problema em ser você mesmo, em abraçar sua
feiúra e transformá-la
em beleza.
Eles prepararam
a platéia com o hino patriota "There Will Always
Be an England" e
abriram o show
com "Pretty Vacant". Incluíram músicas como "No Feelings", "Holidays in the Sun"
e excitaram a histórica casa
com os hits "Anarchy in the
UK" e "God Save the Queen".
"Bodies" levou a saideira e deixou o publico sorrindo
Há uma maneira de envelhecer com orgulho, sinceridade e
atitude, e não existe ninguém
melhor para mostrar isso do
que os Sex Pistols. Depois de
anos de contestação, Rotten finalmente foi aceito em paz.
MAYRA DIAS GOMES , 19, é autora do romance
"Fugalaça" (ed. Record)
Texto Anterior: 02 Neurônio: Momento limbo de final de ano Próximo Texto: Música: Punk vivo Índice
|