São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 2002

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BANDAS

Brasileiros testam seus talentos na capital do circuito indie

De Londrina a Londres

JULIANO ZAPPIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES

É quarta-feira, e a temperatura está atipicamente quente para um dia de abril. Dentro do bar, cerca de 60 pessoas, a maioria com copos de cerveja na mão, esperam os sorocabanos da Wry subir ao palco.
Não, não se trata de uma banda independente tocando em algum canto da Vila Madalena. O show é em Londres, a quase 10 mil quilômetros da terra natal dos integrantes, que decidiram largar o pequeno, não-lucrativo e vicioso circuito dos "lugares alternativos" do país e partir em busca de um sonho. "Desde o dia em que formamos a banda, nosso grande objetivo era vir tocar em Londres", conta Mário, vocalista da Wry.
Empolgados por uma afinidade estética e musical com as bandas britânicas, alguns grupos do cenário independente brasileiro fixaram residência na terra da rainha e partiram para a batalha. "Aqui a cena alternativa tem muito mais espaço do que no Brasil. Mas o nível das bandas é infinitamente maior", explica o experiente Rudi Trevisan, vocalista do Ella Guru.
Há mais de dez anos na cidade, Rudi sabe muito bem o quanto é difícil manter uma banda em terra estrangeira. Em 91, ele e seus companheiros da banda Jules et Jim resolveram trocar Londrina, no sul do Brasil, por Londres, capital do Reino Unido. No começo, o baterista não aguentou de saudade e voltou. Dois anos depois, o novo integrante, um amigo vindo do Brasil, suicidou-se durante uma experiência com drogas. Em 96, ele resolveu começar o projeto Ella Guru, que lançou um EP em 2001.
Para vencer a difícil vida e conseguir um certo destaque, as bandas brasileiras têm se ajudado bastante. "Isso tem sido muito importante. O pessoal está sempre dando uma força", conta Rodrigo Elias, vocalista do Tods. "O engraçado é que isso não acontecia em Curitiba. Lá rolava a maior competição."
Em Londres, eles emprestam equipamentos uns aos outros, marcam shows juntos, trocam dicas de contatos, dividem tempo em estúdio, fazem festas e são bem unidos, formando uma espécie de comunidade para enfrentar a dura competição. Foi nesse espírito que a Wry, assim que conseguiu marcar o primeiro show, pediu ao Wacko, um grupo de Guarulhos, tocar com eles.
Até agora, a Wry é a banda brasileira que mais se tem destacado na cena alternativa inglesa. Em seis meses, fizeram cinco shows, dois deles em casas do chamado "circuito de pubs de Camden Town". Os planos incluem mais apresentações e o lançamento de um compacto.
Apesar do relativo bom desempenho da Wry em Londres, seus integrantes já andam sonhando com o Brasil. Uma pequena excursão por terras brasileiras, em agosto, está planejada. "Pô, para a gente significa muito tocar lá. Nós queremos manter a relação", diz Mário. "Além disso, precisa sobrar grana para a gente comprar a passagem de volta para Londres!"


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