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BANDAS
Brasileiros testam seus talentos na capital do circuito indie
De Londrina a Londres
JULIANO ZAPPIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES
É quarta-feira, e a temperatura está
atipicamente quente para um dia
de abril. Dentro do bar, cerca de 60
pessoas, a maioria com copos de
cerveja na mão, esperam os sorocabanos da Wry subir ao palco.
Não, não se trata de uma banda
independente tocando em algum
canto da Vila Madalena. O show é
em Londres, a quase 10 mil quilômetros da terra natal dos integrantes, que decidiram largar o pequeno, não-lucrativo e vicioso circuito
dos "lugares alternativos" do país e
partir em busca de um sonho. "Desde o dia em que formamos a banda,
nosso grande objetivo era vir tocar
em Londres", conta Mário, vocalista da Wry.
Empolgados por uma afinidade
estética e musical com as bandas
britânicas, alguns grupos do cenário independente brasileiro fixaram
residência na terra da rainha e partiram para a batalha. "Aqui a cena alternativa tem muito mais espaço do
que no Brasil. Mas o nível das bandas é infinitamente maior", explica
o experiente Rudi Trevisan, vocalista do Ella Guru.
Há mais de dez anos na cidade,
Rudi sabe muito bem o quanto é difícil manter uma banda em terra estrangeira. Em 91, ele e seus companheiros da banda Jules et Jim resolveram trocar Londrina, no sul do
Brasil, por Londres, capital do Reino Unido. No começo, o baterista
não aguentou de saudade e voltou.
Dois anos depois, o novo integrante, um amigo vindo do Brasil, suicidou-se durante uma experiência
com drogas. Em 96, ele resolveu começar o projeto Ella Guru, que lançou um EP em 2001.
Para vencer a difícil vida e conseguir um certo destaque, as bandas
brasileiras têm se ajudado bastante.
"Isso tem sido muito importante. O
pessoal está sempre dando uma força", conta Rodrigo Elias, vocalista
do Tods. "O engraçado é que isso
não acontecia em Curitiba. Lá rolava a maior competição."
Em Londres, eles emprestam
equipamentos uns aos outros, marcam shows juntos, trocam dicas de
contatos, dividem tempo em estúdio, fazem festas e são bem unidos,
formando uma espécie de comunidade para enfrentar a dura competição. Foi nesse espírito que a Wry,
assim que conseguiu marcar o primeiro show, pediu ao Wacko, um
grupo de Guarulhos, tocar com eles.
Até agora, a Wry é a banda brasileira que mais se tem destacado na
cena alternativa inglesa. Em seis
meses, fizeram cinco shows, dois
deles em casas do chamado "circuito de pubs de Camden Town". Os
planos incluem mais apresentações
e o lançamento de um compacto.
Apesar do relativo bom desempenho da Wry em Londres, seus integrantes já andam sonhando com o
Brasil. Uma pequena excursão por
terras brasileiras, em agosto, está
planejada. "Pô, para a gente significa muito tocar lá. Nós queremos
manter a relação", diz Mário. "Além
disso, precisa sobrar grana para a
gente comprar a passagem de volta
para Londres!"
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