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ESTANTE
O maluco que viu mais detalhes da vida do que muita gente lúcida
Em um país com boas condições
econômicas e culturais, pode até
acontecer de os loucos terem um
destino humanamente aceitável. Há
até casos de doentes mentais que
conseguem encontrar espaço para
dar vazão a seu talento ensandecido. Mas o mais comum é o sujeito
viver como marginal.
No Brasil do século 19, ocorreu
pelo menos um caso notável no
campo da literatura. Trata-se da
história de José Joaquim de Campos
Leão, que nasceu no interior do Rio
Grande do Sul em 1829 e morreu em
1883, em Porto Alegre. Teve vida
mais ou menos normal até certa altura. Só que, aos 35 anos, pirou.
Nosso José Joaquim, em surto de
loucura, resolveu adotar mais um
nome, Qorpo-Santo, escrito assim
mesmo. Uma das singularidades do
cara foi bolar uma reforma ortográfica para simplificar a língua portuguesa (maluco, ele?).
Sua vida passou a ser um pequeno
inferno: foi processado pela esposa,
tentou provar que não era louco,
mas acabou interditado judicialmente. A diferença entre ele e os sofredores de doenças mentais típicos
é que conseguiu escrever, muito e
dispersamente. Escreveu peças de
teatro com grande criatividade, que
alguns poderão considerar simples
maluquice, mas nas quais leitores
sensíveis saberão ver quadros satíricos com toques do que depois veio a
se chamar surrealismo e que despertam nossa inteligência para aspectos da vida que passam batidos.
E-mail -
fischerl@uol.com.br
"Teatro Completo"
Autor: Qorpo-Santo
Editora: Iluminuras
Quanto: R$ 39
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