São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 2002

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ESTANTE

O maluco que viu mais detalhes da vida do que muita gente lúcida

Em um país com boas condições econômicas e culturais, pode até acontecer de os loucos terem um destino humanamente aceitável. Há até casos de doentes mentais que conseguem encontrar espaço para dar vazão a seu talento ensandecido. Mas o mais comum é o sujeito viver como marginal.
No Brasil do século 19, ocorreu pelo menos um caso notável no campo da literatura. Trata-se da história de José Joaquim de Campos Leão, que nasceu no interior do Rio Grande do Sul em 1829 e morreu em 1883, em Porto Alegre. Teve vida mais ou menos normal até certa altura. Só que, aos 35 anos, pirou.
Nosso José Joaquim, em surto de loucura, resolveu adotar mais um nome, Qorpo-Santo, escrito assim mesmo. Uma das singularidades do cara foi bolar uma reforma ortográfica para simplificar a língua portuguesa (maluco, ele?).
Sua vida passou a ser um pequeno inferno: foi processado pela esposa, tentou provar que não era louco, mas acabou interditado judicialmente. A diferença entre ele e os sofredores de doenças mentais típicos é que conseguiu escrever, muito e dispersamente. Escreveu peças de teatro com grande criatividade, que alguns poderão considerar simples maluquice, mas nas quais leitores sensíveis saberão ver quadros satíricos com toques do que depois veio a se chamar surrealismo e que despertam nossa inteligência para aspectos da vida que passam batidos.

E-mail -
fischerl@uol.com.br




"Teatro Completo"

Autor: Qorpo-Santo
Editora: Iluminuras
Quanto: R$ 39



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