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CIÊNCIA
Médico americano decide ser astronauta depois dos 40 anos e vai ao espaço com 49
Vovô do espaço
ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
A maioria das coisas excitantes e das
grandes aventuras acontecem na
juventude. Certo? Errado. Tem
gente que faz isso muito depois, como se
fosse uma espécie de "adolescência tardia".
Quer dizer, há adultos que vivem experiências e fazem escolhas importantes próprias
dos jovens. Parece difícil, mas acontece. Pelo menos foi o que aconteceu com o médico
e cientista norte-americano Lee Morin, 51,
que decidiu tornar-se um astronauta quando já tinha 43 anos.
Apesar de fazer parte do imaginário da
maioria das crianças, a profissão de astronauta nunca tinha passado pela cabeça do
médico, até o dia em que viu um edital da
Nasa (agência espacial dos EUA) no posto
da Marinha onde trabalhava. "Resolvi me
inscrever, sem expectativas, para não me
arrepender pelo resto da vida", conta.
Funcionou. Ele foi selecionado e, aos 43
anos, começou a fazer um curso técnico
preparatório de dois anos. Concluído o
curso, Morin passou a trabalhar para a Nasa e, em meados de 2000, foi chamado para
fazer mais um ano de treinamentos físicos,
psicológicos e com equipamentos para ir
ao espaço na aeronave Atlantis. Sua missão: instalar equipamentos na Estação Espacial Internacional (ISS), como parte do
processo de montagem do complexo.
Morin passou 259 horas no espaço, sendo
14 delas fora da nave. A tripulação da
Atlantis preparou a ISS para futuros passeios espaciais e passou uma semana em
operações conjuntas com outra tripulação.
Apesar de parecer um sentimento inevitável para qualquer pessoa distante da profissão de astronauta, o cientista conta que,
em nenhum momento, sentiu medo. "O
treinamento é muito pesado. Ele nos prepara para todas as situações e para lidarmos com todos os sentimentos."
Depois de 11 dias em órbita com outros
cinco astronautas, a trajetória de Morin ficou conhecida em países como a Alemanha e a Índia principalmente por ele ser um
dos primeiros avôs no espaço. Quando viajou na Atlantis, aos 49 anos, Morin já tinha
dois filhos e dois netos. Sua "caminhada"
espacial, feita na companhia de outro astronauta-avô, ficou conhecida como "silver
walk" (algo como "caminhada grisalha").
"Foi a coisa mais fantástica que fiz na minha vida. Jamais vou me arrepender", diz
ele, que foi ao espaço uma única vez, há
dois anos, em 2002.
Na Terra desde então, Morin concilia o
trabalho de médico, desenvolvido em sua
clínica particular, com o de astronauta em
terra firme, na Marinha.
No planeta, seu trabalho de astronauta
consiste em desenvolver tecnologias para
serem usadas no espaço. Essas tecnologias
vão do tipo de alimento que será consumido nas naves e de formas mais confortáveis
de dormir até equipamentos para ajudar
nas viagens. Atualmente, Morin está estudando inovações em instrumentos de GPS
(Sistema de Posicionamento Global).
Para manter a forma, Morin faz treinamentos físicos básicos e específicos, como
mergulhar em tanques, que simulam o espaço, com equipamento espacial.
Além disso, Morin acumula o cargo de
subsecretário de Estado Assistente dos
EUA para Saúde, Espaço e Ciências e viaja o
mundo para dar palestras para crianças e
adolescentes explicando um pouco sobre o
trabalho de astronauta. Essas viagens acontecem por duas semanas, a cada mês. Para
ele, essa é a melhor parte do trabalho.
Na semana passada, Morin esteve no Brasil para participar de uma conferência sobre GPS. Durante uma tarde, ele conversou
sobre sua profissão com crianças e adolescentes em situação de risco atendidas pelo
projeto Clicar, na Estação Ciência da USP.
O doutor Lee Morin formou-se em ciências, eletrônica e matemática em 1974. Mas
o primeiro emprego não tinha nada a ver
com isso tudo. Trabalhou como zelador e
carregador de malas em um hotel.
Para quem quer seguir a carreira de cientista e homem do espaço, ele recomenda
muito estudo. "Aprenda tudo o que você
puder sobre todos os assuntos. No futuro,
tudo é útil de alguma maneira", diz.
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