São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O rap de protesto acabou", diz DJ Hum

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A forma de divulgar o rap e toda a produção cultural do hip hop é motivo de polêmica no seu próprio meio. Para alguns, é preciso mudar o discurso, descartar o tom crítico e politizado e se abrir ao grande público para se tornar um produto vendável, gerador de lucro, com o mero objetivo de divertir as massas.
Os puristas, no entanto, acreditam que desvincular o movimento de seu discurso inicial é sinal de corrupção ao sistema que tanto já combateram. Nesse cenário polêmico, figuram com diferentes posições alguns ícones da primeira geração do hip hop nacional.
O MC Thaíde e DJ Hum, que estrearam juntos em 1988 com "Corpo Fechado", de batida seca e letra dura e crítica, hoje desfrutam de forte projeção na mídia e se vêem cobrados pelos colegas do underground atual. Thaíde, 39, saiu da apresentação de um programa da MTV após cinco anos para ir para a Globo, a emissora mais combatida por ele no passado, participar da série "Antônia".
"Naquela época, a gente tinha necessidade de martelar aquilo (as críticas). Hoje eu acredito em popularizar o hip hop para fazê-lo dar lucro, para adquirir bens através do nosso trabalho. A gente não consegue isso fechado dentro do nosso próprio mundo, fazendo música para os amigos... O amigo sempre fala que está tudo bom e aí fica difícil melhorar a qualidade para entrar na programação de uma rádio", afirma.
"Muita gente me acusa de vendido, e as críticas já me incomodaram muito, hoje, não mais. Eu vou fazer 40 anos, não posso ter a mesma mentalidade daquela época."
DJ Hum, 40, tornou-se produtor musical e lançou o projeto Motirô, do hit "Senhorita", que ganhou as pistas e as rádios com melodia dançante e letra sobre amor adolescente. "O rap de protesto acabou, foi daquela geração", justifica Hum. "Já relatamos muito a violência, mas o cotidiano não é só isso, é também casar, ir ao mercado, se divertir. Falar da violência é mais fácil que vender a paz."

Grafite
Os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, os Gêmeos, 32, que ainda pivetes dançavam break e grafitavam no largo São Bento, hoje desenvolvem carreira internacional como artistas plásticos e se desvincularam do movimento.
"Quisemos sair fora para não ficarmos presos em uma cultura só, americanizada, e partir para uma nossa, do nosso país, muito mais rica", diz Otávio.
"É normal que aconteça assim quando um movimento se expande. A galera da São Bento hoje está casada, com filhos, mas o trabalho social e a atitude continuam. Nos mantemos fiéis aos valores difundidos por Afrika Bambaataa (um dos fundadores do hip hop): paz, união e diversão", diz Gustavo. (DB)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Hip Hop e os 4 elementos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.