Não. Não vou falar do clube supercool de Paris que atende pelo nome Favela Chic e atrai o pessoal mais descolado da França. Vou falar de outra coisa. De como as periferias vêm se apropriando cada vez mais do "chic". E de como isso se torna cada vez mais visível graças à internet. O fenômeno está em vários lugares do mundo. Na Inglaterra, a turma dos "chavs" (pronuncia-se tchévs), grupos da periferia de Londres, adotou a caríssima marca Burberry como sua preferida. Ficou comum ver "chavs", muitos deles desempregados, andando pelas ruas de Londres com blusões da Burberry, para o desespero do departamento de marketing da empresa. No Brasil, algo parecido acontece na rua e na internet. A Lacoste, por exemplo, que tem uma campanha claramente direcionada para um público de classe A (bit.ly/8zK7b), tornou-se uma das favoritas das periferias.
É fácil fazer o experimento. Procure a palavra "Lacoste" no YouTube. O primeiro vídeo que aparece é o do MC FB, tocando o funk "Bonde da Lacoste". A letra fala "desde que eu me conheço como gente/ que a Lacoste é o símbolo da gente". E seguem inúmeros outros vídeos, todos com elogios ao "jacaré".
O mesmo acontece com a Ecko. Quem procurar a marca no YouTube vai notar que o primeiro resultado, com mais de 1,8 milhão de visualizações (é também o vídeo mais visto com a palavra Ecko), é o Bonde do Rinoceronte, homenagem feita à marca na favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro, onde só tem "neguinho portando Ecko", de acordo com a letra.
Isso diz muito sobre como a rede bagunça os conceitos de "centro" e de "periferia". É também uma mudança simbólica. É comum o mundo "chic" se apropriar da favela (como fez o clube francês). Mas o contrário, até há pouco tempo, era invisível para muita gente, e agora não é mais. Não sei sobre você, mas, depois de ver os vídeos no YouTube, as roupas da Ecko e da Lacoste me parecem ainda mais legais.


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