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comportamento
Adolescentes tiram pensadores do sério
Estudiosos da cultura brasileira criticam jovens que preferem a indústria estrangeira às produções nacionais
DA REPORTAGEM LOCAL
Demorou, mas Bárbara Vieira, 14, já se
acostumou a enfrentar baladas regadas a MPB.
"Quando eu era menor, era
mais difícil suportar", diz e abre
fogo: "Rolling Stones, que é legal, não toca. Não é só porque é
daqui que precisa ficar tocando. As pessoas nem conhecem a
MPB. A Pitty nunca fez rock;
Calypso é o maior sucesso nos
EUA, e daí? Não é porque é brasileiro que a gente tem que valorizar mais", defende.
"Eles não sabem o que estão
perdendo", afirma o sociólogo
pernambucano Chico de Oliveira, sobre o descaso de muitos adolescentes em relação à
cultura e à música nacionais.
"Tom Jobim é um dos grandes músicos mundiais. É um
músico de categoria mundial,
assim como Chico Buarque e
Caetano Veloso. Portanto eles
não sabem o que estão perdendo ao rejeitar uma contribuição
musical dessa estirpe. Não tem
que fechar os olhos a outras influências", diz Chico.
"Caetano Veloso é uma coisa
que não desce. Quando era pequena achava um saco", conta a
jovem Bárbara. "Caetano não
desce?", questiona o sociólogo.
"Isso é uma bobagem imensa. Caetano é um grande músico, que tenta até fazer incursões por outras vias musicais,
como em seu último show, claramente influenciado pelo
rock'n'roll. Ele vê no rock uma
contribuição à cultura mundial
e não quer ficar fora. Esses jovens estão exagerando no hambúrguer e na Coca-Cola."
A estudante gaúcha de administração de empresas Bruna
Gil, 20, simplesmente não consegue gostar de MPB. "Nem de
samba nem de axé nem forró
nem de pagode, mas o fato de
eu não gostar não impede que
seja bom. Como um todo, acho
que essas músicas são ruins já
na origem: o samba."
O sociólogo Chico de Oliveira
sai do sério: "Renegar a música
brasileira é renegar outras influências musicais e culturais.
Quem faz isso está dando um tiro no próprio pé. É o avesso da
cultura. Cultura é intercâmbio,
influência; não é livro embaixo
do braço."
Bruna gosta apenas de bandas desconhecidas, "que estão
bombando em Londres". Isso
não é nada bom, segundo Luiz
Roncari, professor de literatura
brasileira da Universidade de
São Paulo (USP).
"Se no mundo inteiro, seja
nos EUA, seja na França, valoriza-se a própria cultura, isso
deve ter alguma razão, ou o
mundo inteiro está errado e
nós, certos. Então, acho que isso se dá em grande razão por
descaso da educação e dos próprios órgãos de formação de
opinião, que têm a cabeça colonizada. Nós somos, nesse caso,
singulares. A cultura é a crítica
do país", explica o acadêmico.
"Aonde você vai no mundo,
seja Europa ou América Latina,
a cultura nacional é muito valorizada, porque é através da cultura nacional que você pode
criar identificações. Em todo
lugar se valoriza muito a cultura local", diz Roncari.
(LF)
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