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Programas tentam combater o preconceito contra homossexuais
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira coisa que vem à cabeça
quando se pensa em um jovem é a
imagem de uma pessoa liberal, aberta
para o novo, que quer quebrar tabus e
enterrar preconceitos, certo? Nem tanto.
Uma pesquisa da Unesco divulgada há
duas semanas mostrou que o número de
jovens que expressam pensamentos preconceituosos é muito maior do que se
supunha, pelo menos em relação à homossexualidade.
De acordo com o estudo, que ouviu
16.422 estudantes do ensino fundamental e médio de 14 cidades do país, aproximadamente 25% dos entrevistados disseram que não gostariam de ter um colega de classe homossexual -entre os meninos, são quase 40%. Esse percentual
chega a 31% em Fortaleza, representando um universo de 112.477 jovens.
"Eu não concordo com a homossexualidade, acho que o homem foi feito para a
mulher, e a mulher foi feita para o homem. Mas eu respeito quem é homossexual e acho que eles têm mesmo que lutar pelos seus direitos", diz a estudante
Fernanda Reis, 22, que é evangélica. "Eu
já vi dois homens se beijando e andando
de mãos dadas no meio da rua e achei
muito estranho. Mas acho que quem é
gay tem mesmo que assumir."
Fernanda e o webmaster Erik Galdino,
20, estão em campos opostos, mas, em
encontro promovido pelo Folhateen,
conversaram tranqüilamente. "Não
compartilho da posição dela, mas, pelo
menos, ela é mais razoável do que muita
gente", diz Erik.
Erik, gay assumido, é militante da causa. Já organizou eventos GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) em São Paulo e participa de um projeto chamado ArmárioX
(www.armariox.com.br), que dá apoio
a homossexuais que estão "saindo do armário" (se assumindo). "O que mais
gostaria é que não precisasse haver uma
Parada Gay com 1 milhão de pessoas para mostrar que isso é normal e existe em
todas as classes sociais", afirma.
Para que os jovens aprendam a conviver com a diferença e aceitá-la, muitos
grupos desenvolvem trabalhos em escolas, por meio de oficinas com professores, onde se discute a melhor forma de
tratar a questão em sala de aula.
"A homossexualidade sempre foi um
dos temas mais difíceis de trabalhar. Os
professores, muitas vezes, ficam perdidos", diz o psicólogo e sociólogo Antonio Carlos Egypto, coordenador do
GTPOS (Grupo de Trabalho e Pesquisa
em Orientação Sexual), que desenvolve
há um ano um projeto de discussão de
sexualidade na rede municipal de ensino
de São Paulo e já capacitou mais de 700
educadores.
Segundo ele, que trabalha na área desde os anos 70, o preconceito já foi maior
entre jovens. "Ainda não está tudo bem,
mas já foi muito pior."
Egypto acredita que os adolescentes
que estão começando a afirmar a sua sexualidade se sentem ameaçados pela
presença de quem tem um desejo diferente. "Fica aquela fantasia de que, só
porque um menino é gay, vai atacar os
outros meninos, por exemplo. Como se
os heterossexuais também fossem sair
por aí atacando os outros", compara.
Mas a proximidade, segundo ele, ajuda
a derrubar esse estereótipo. "Quando
existe um convívio e esse assunto é discutido, as pessoas respeitam muito mais.
Se o professor é competente, pode ajudar
bastante. É comum um aluno homossexual ser mais discriminado por estudantes de outras classes do que pelos seus colegas, que acabam vendo que isso não é
um bicho de sete cabeças."
O Grupo Corsa (Cidadania, Orgulho,
Respeito, Solidariedade e Amor), de São
Paulo, também desenvolveu um projeto
por dois anos nas escolas municipais de
São Paulo para tratar especificamente a
questão da homossexualidade. O convênio com a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, que bancava o projeto,
terminou no final do ano passado e não
foi renovado.
"Os alunos expressam esse preconceito
não por uma característica individual,
mas porque ele está na sociedade. A
fronteira entre o masculino e o feminino
é muito forte na escola", diz Lula Ramires, presidente do Grupo Corsa.
"Se um menino quer brincar com uma
boneca na escola, e uma menina quer
um carrinho, isso ainda é visto como
transgressão. Alguns professores tratam
isso com violência, outros, com sutileza,
retiram o brinquedo. Apenas uma pequena parcela entende que isso não tem
nada a ver. O menino pode estar se preparando para ser pai, e a menina, para
dirigir o seu carro", diz Ramires.
Há dois anos, um lote de 3.000 fitas de
um vídeo mostrando a história de um
garoto flagrado pelos colegas beijando
outro rapaz foi distribuído nas 89 Diretorias de Ensino do Estado de São Paulo. O
vídeo "Pra que Time Ele Joga" foi produzido pela Secretaria da Saúde em parceria com a Coordenação Nacional de Aids
e várias ONGs.
De acordo com a Secretaria da Educação, cada escola decide a forma como
trabalha o assunto. Algumas organizam
debates, outras propõem uma redação
após a exibição do vídeo.
Para Márcia Regina Giovanetti, técnica
da Coordenação Estadual de DST-Aids
que participou da produção do vídeo, seria preciso trabalhar com estudantes cada vez mais novos para evitar que os preconceitos surjam e se cristalizem. "Com
os adolescentes, já é um pouco tarde.
Mas não adianta bater de frente, é uma
questão processual. Por enquanto estamos em um trabalho de desconstruir
preconceitos entre os profissionais. É um
caminho longo e só com o passar do
tempo vamos ter gerações cada vez mais
arejadas." É o que se espera.
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