Lembro-me bem da recente passagem dos Adicts por São Paulo. Todas as pessoas foram embora extasiadas, com sorrisos estúpidos. A energia teatral da longínqua banda não decepcionou.
No backstage, porém, uma fotógrafa teve uma impressão curiosa: seriam os caras da banda brigados uns com os outros? Como afirmar que a discussão que rolou após o primeiro show, entre o vocalista Monkey e o guitarrista Pete, não passou de um estresse momentâneo? Como dizer que os caras não se falam, só porque estavam sozinhos e calados, em cantos diferentes? Não posso afirmar, só supor. Seria compreensível, porém, depois de 32 anos na estrada.
Contei essa história a um amigo e ele me perguntou: "O que você faz quando conhece um músico e se torna amiga dele, ou quando se decepciona?". "Eu o mato. Posso continuar ouvindo seu disco, mas o empurro do pedestal." "Você não acha isso triste?". "Sim, mas, para sentir prazer, é preciso sentir dor." E, para ter acesso a alguém que mora dentro de pôsteres e capas de CDs, é preciso pagar um preço. Muitas vezes, a desilusão. Outras, a constatação de que o nervosismo antes de uma entrevista ou de um encontro se deve ao fato de que devo algo ao meu editor para descolar uma grana. Depois de dois minutos na presença de uma estrela, dá para adquirir calma. Quando ela pede licença para ir ao banheiro, faz xixi e cocô como qualquer mortal.
Falando em coisas nojentas que acontecem, você já se imaginou ajudando Zakk Wylde, guitarrista do Ozzy Osbourne, a tirar o coturno depois de vomitar? Foi o que fiz. Ajudei aquele homem gigante com aparência de viking a desamarrar os cadarços porque havia bebido demais. Ele precisava de atenção -pouco depois, surgiu um boato de que se internou.
Um técnico de som de sua equipe disse que, agora, ele bebe cerveja sem álcool. Mas o rock é uma montanha-russa. Nunca se sabe quando pode descer. Eu perguntei a ele intuitivamente: "Você se sente sozinho?". Zakk bufou e respondeu: "Estou sempre sozinho, baby, estou sempre sozinho". Quando acordou, seguiu em turnê. E foi tocar para milhões de pessoas.


Texto Anterior: Saúde: Salto mortal
Índice