São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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música

Duas décadas de barulho

O grunge, movimento que revolucionou o rock dos anos 1990, completa 20 anos

CARLOS MINUANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Seattle, EUA, final dos anos 1980. Com influências de ritmos como punk hardcore, hard rock, heavy metal e rock alternativo, estava prestes a ser parida ali uma sonoridade diferente no rock e um novo estilo de comportamento, que logo ficaria conhecido como "grunge" -em português, "sujo" ou algo parecido- e que, em pouco tempo, viraria uma febre global.
"As bandas refletiam uma juventude que se sentia renegada pela sociedade, as letras falavam de angústia e tinham um certo sarcasmo", recorda o músico Kid Vinil, fã de carteirinha do movimento e, principalmente, da pioneira Mudhoney, que, naquele ano de 1988, lançava a obra fundamental do novo estilo, o clássico "Superfuzz Bigmuff", pelo selo Subpop.
A mesma gravadora indie logo em seguida também traria ao mundo o não menos visceral "Bleach", estréia do Nirvana, estabelecendo de uma vez por todas a cena grunge. Pelas ruas, uma multidão de jovens vestindo jeans surrados, tênis velhos e, é claro, a indispensável camisa xadrez de flanela, símbolo maior da nova onda.
Outras bandas foram se enfileirando junto a pioneira Mudhoney, lançadas pela mesma Subpop, como Soundgarden, Temple of the Dog. Mas quem colocou Seattle definitivamente para a história foi o Nirvana. "Ninguém chegou nem perto da sonoridade deles", afirma, em entrevista ao Folhateen, Jack Endino, amigo de Kurt e produtor de obras fundamentais do grunge ("Superfuzz Bigmuff" e "Bleach" são dele).
O tempo que passou ao lado do mito, diz ele, só fez crescer uma grande admiração. "Kurt era um cara encantador, verdadeiro e apaixonado por música", lembra o produtor, que atualmente trabalha com a banda Flypper -criada em 1979 e, segundo o produtor, teria sido fonte inspiradora para o som de Seattle. "Desde o inicio, a Flypper exerceu influência sobre Nirvana, Melvins e muitos outros grupos."

A queda
A partir do disco "Nevermind", de 1991, o Nirvana se tornou a banda mais popular do mundo, empurrando para o sucesso outros conterrâneos, como Pearl Jam e Alice in Chains. "As gravadoras sacaram que podiam ganhar muito dinheiro e começaram a assinar com tudo que era banda que se dizia grunge", diz Vinil.
Não demorou para que os tubarões da indústria fonográfica crescessem os olhos para o fenômeno. Em pouco tempo a supergravadora Geffen comprou os direitos do selo Subpop e do Nirvana e fez com que a banda vendesse milhões de discos. O próprio Kurt não conseguiu conviver com tanta exposição à mídia o que, junto com o excesso de drogas, acabou levando-o ao suicido em 1994. Começava o declínio do grunge.
Ainda assim as grandes gravadoras achavam que poderiam faturar mais e começaram a inventar um "subgrunge", lançando clones de Nirvana e Pearl Jam, como Silverchair, Creed e Bush. "Isso foi depreciando cada vez mais a idéia musical plantada inicialmente pela Subpop", conta Vinil.
Mas grandes nomes que se destacaram em Seattle continuam na ativa, como Mudhoney e Pearl Jam, por isso, apesar de menos grunge, a gravadora americana decidiu comemorar o aniversário de 20 anos.
Para relembrar os bons e velhos tempos, o selo reuniu seu cast no festival Sub20, realizado em meados de julho em Seattle, naturalmente.
A melhor parte, na opinião do produtor Jack Endino, que acompanhou tudo de perto, foi um show "secreto" em um pequeno clube, onde as bandas The Fluid e Green River tocaram para 120 pessoas. "O mais fantástico foi ver a Green River, eles não tocavam juntos há 20 anos", destaca.
No total, mais de 20 bandas tocaram nos dois dias do festival, entre elas as novatas Foals (que vem ao Brasil em novembro), Red Red Meat e Flight of the Conchords.


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