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música
Duas décadas de barulho
O grunge, movimento que revolucionou o rock dos anos 1990, completa 20 anos
CARLOS MINUANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Seattle, EUA, final dos
anos 1980. Com influências de ritmos
como punk hardcore,
hard rock, heavy metal e rock alternativo, estava
prestes a ser parida ali uma sonoridade diferente no rock e
um novo estilo de comportamento, que logo ficaria conhecido como "grunge" -em português, "sujo" ou algo parecido- e que, em pouco tempo, viraria uma febre global.
"As bandas refletiam uma juventude que se sentia renegada
pela sociedade, as letras falavam de angústia e tinham um
certo sarcasmo", recorda o músico Kid Vinil, fã de carteirinha
do movimento e, principalmente, da pioneira Mudhoney,
que, naquele ano de 1988, lançava a obra fundamental do novo estilo, o clássico "Superfuzz
Bigmuff", pelo selo Subpop.
A mesma gravadora indie logo em seguida também traria
ao mundo o não menos visceral
"Bleach", estréia do Nirvana,
estabelecendo de uma vez por
todas a cena grunge. Pelas ruas,
uma multidão de jovens vestindo jeans surrados, tênis velhos
e, é claro, a indispensável camisa xadrez de flanela, símbolo
maior da nova onda.
Outras bandas foram se enfileirando junto a pioneira Mudhoney, lançadas pela mesma
Subpop, como Soundgarden,
Temple of the Dog. Mas quem
colocou Seattle definitivamente para a história foi o Nirvana.
"Ninguém chegou nem perto
da sonoridade deles", afirma,
em entrevista ao Folhateen,
Jack Endino, amigo de Kurt e
produtor de obras fundamentais do grunge ("Superfuzz Bigmuff" e "Bleach" são dele).
O tempo que passou ao lado
do mito, diz ele, só fez crescer
uma grande admiração. "Kurt
era um cara encantador, verdadeiro e apaixonado por música", lembra o produtor, que
atualmente trabalha com a
banda Flypper -criada em
1979 e, segundo o produtor, teria sido fonte inspiradora para
o som de Seattle. "Desde o inicio, a Flypper exerceu influência sobre Nirvana, Melvins e
muitos outros grupos."
A queda
A partir do disco "Nevermind", de 1991, o Nirvana se
tornou a banda mais popular
do mundo, empurrando para o
sucesso outros conterrâneos,
como Pearl Jam e Alice in
Chains. "As gravadoras sacaram que podiam ganhar muito
dinheiro e começaram a assinar com tudo que era banda
que se dizia grunge", diz Vinil.
Não demorou para que os tubarões da indústria fonográfica
crescessem os olhos para o fenômeno. Em pouco tempo a supergravadora Geffen comprou
os direitos do selo Subpop e do
Nirvana e fez com que a banda
vendesse milhões de discos. O
próprio Kurt não conseguiu
conviver com tanta exposição à
mídia o que, junto com o excesso de drogas, acabou levando-o
ao suicido em 1994. Começava
o declínio do grunge.
Ainda assim as grandes gravadoras achavam que poderiam faturar mais e começaram
a inventar um "subgrunge",
lançando clones de Nirvana e
Pearl Jam, como Silverchair,
Creed e Bush. "Isso foi depreciando cada vez mais a idéia
musical plantada inicialmente
pela Subpop", conta Vinil.
Mas grandes nomes que se
destacaram em Seattle continuam na ativa, como Mudhoney e Pearl Jam, por isso, apesar de menos grunge, a gravadora americana decidiu comemorar o aniversário de 20 anos.
Para relembrar os bons e velhos tempos, o selo reuniu seu
cast no festival Sub20, realizado em meados de julho em
Seattle, naturalmente.
A melhor parte, na opinião
do produtor Jack Endino, que
acompanhou tudo de perto, foi
um show "secreto" em um pequeno clube, onde as bandas
The Fluid e Green River tocaram para 120 pessoas. "O mais
fantástico foi ver a Green River,
eles não tocavam juntos há 20
anos", destaca.
No total, mais de 20 bandas
tocaram nos dois dias do festival, entre elas as novatas Foals
(que vem ao Brasil em novembro), Red Red Meat e Flight of
the Conchords.
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