São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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"Poder descontrolado ameaça, não protege"

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

"As pessoas que cometem crimes têm que ser presas, não mortas. Nós não temos pena de morte neste país", observa a antropóloga Alba Zaluar, para quem o capitão Nascimento não deve ser considerado herói.
Segundo ela, o filme mostra um modelo falido de segurança pública. "Essa não é uma maneira de proteger a sociedade. É um poder descontrolado, um uso excessivo da força, que ameaça a sociedade, não a protege. Mas, no filme, é como se não houvesse outra saída que não o policial cometer crimes, torturar e matar", completa.
Para a educadora Regina de Assis, presidente da MultiRio (Empresa Municipal de Multimeios, da Prefeitura do Rio), a situação de violência extrema no Brasil ajuda a explicar por que o capitão Nascimento, mesmo fazendo uso da tortura, é visto como herói por muitos adolescentes. Ela afirma, no entanto, que as contradições desse personagem precisam ser debatidas com os jovens.
"No momento em que vivemos, o capitão Nascimento é um herói irresistível. É um homem que assume responsabilidades, que cumpre sua missão mesmo sofrendo e angustiado. No entanto o fato de ele torturar e matar em nome de seu objetivo precisa ser debatido. Precisamos discutir quais os limites éticos e civilizados para atingir nossos objetivos."
Em sua avaliação, o personagem de Wagner Moura preenche uma lacuna deixada pela ausência da figura paterna: "Nenhum ser humano vive sem ídolos. Para as crianças, os primeiros ídolos costumam ser o pai e a mãe, com o pai assumindo uma figura que representa a ordem e a distinção entre o bem e o mal. Hoje, no entanto, vivemos uma crise de ausência da figura paterna".
(LETICIA DE CASTRO e ANTÔNIO GOIS)

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