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2003 para lembrar; 2003 para esquecer
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Melhores e piores de 2003,
porque chegou a hora. A
lista foge um pouco do convencional. Espero que você
aguente até o fim.
Melhor disco do ano: "Welcome to the Monkey House", Dandy Warhols
A produção, do Duran Duran
Nick Rhodes, é clara como um lago transparente, os arranjos mostram sensibilidade sem excessos,
as canções são bem estruturadas,
a banda (um quarteto, de Portland, Oregon, oeste dos EUA) está mais madura. O CD deixou
"Escuta Aqui" arrastando a língua no chão porque se sustenta
por méritos estritamente musicais. Não faz parte de uma "cena"
ou de uma "tendência". Não caiu
nas graças da cada vez mais vampiresca imprensa britânica. Os
Dandy Warhols têm o que se chamava antigamente de "luz própria". Construíram e iluminam
seu próprio caminho.
Melhores canções do ano: "Sumday", Grandaddy
Aqui, o índice de glamour é zero. O Grandaddy -quinteto liderado pelo inventor da coisa toda, Jason Lytle- vem de Modesto, Califórnia central, região agrícola às margens de uma das rodovias que cruzam o Estado de
norte a sul. O isolamento geográfico, no entanto, não impede
Lytle de compor canções de uma
beleza quase sinfônica, sobre temas tão incomuns quanto computadores quebrados e executivos de vendas que passam alguns
dias de descanso no campo.
"Sumday" não é tão estiloso e
marrento quanto o disco dos
Dandy Warhols. Mas tem o mesmo espírito -uma espécie de desenvolvimento musical auto-sustentado.
Disco genial de um cara que todo mundo sabe que é gênio:
"Hail to the Thief", Radiohead
"Kid A" foi assustador. "Amnesiac" talvez seja melhor esquecer. Mas "Hail to the
Thief", o sucessor desses dois
álbuns, reinstala Thom Yorke,
o líder do Radiohead, no panteão dos deuses dos rock. Ele já
pode se aposentar e, ainda assim, sua missão no século 21
estará cumprida.
Disco que divide o mundo:
"Room on Fire", Strokes
Você vai ler de tudo sobre o
segundo álbum dos Strokes.
Que é ótimo porque é idêntico
ao primeiro. Que é péssimo
porque é idêntico ao primeiro.
Que é ótimo porque é totalmente diferente do primeiro.
Que é péssimo porque é totalmente diferente do primeiro.
Melhor do que ler, no entanto,
é ouvir o novo trabalho desses
cinco moleques nova-iorquinos que não precisam seguir a
moda -porque eles fazem a moda.
Disco ótimo que você não vai
ver em nenhuma outra lista:
"100th Window", Massive Attack
Mantendo a escrita, os dois
componentes do núcleo central
do Massive Attack, Robert del
Naja e Daddy G, brigaram feio.
Como resultado, o disco novo é
na verdade um trabalho solo de
Del Naja, adepto de texturas
sombrias e climas idem. É um álbum menos reggae e menos
black music em geral, já que essa
é a praia do ausente Daddy G. Tirando os excessos de Sinead
O'Connor, vocalista convidada, é
um grande disco.
Discos que você vai ver em várias listas de melhores, menos
nesta aqui
"Up the Bracket", Libertines
O mundo não precisa de um
Strokes cover. Ainda.
"Youth and Young Man-hood", Kings of Leon
O pessoal de banda tem 16, 17
anos. Dá para perceber.
"Echoes", The Rapture
Só Preta Gil impede este de ser
o pior lançamento do ano.
"Elephant", White Stripes
Não é ruim, mas o excesso de
hype incomoda.
Melhor show do ano: Stereo Total no Sesc Pompéia (SP)
Dupla franco-germânica, que
não junta mais do que 300 pessoas em sua Berlim natal, atraiu
cinco vezes mais gente do que isso em São Paulo. Todo mundo
canta e dança junto. Mais alto-astral impossível.
Pior show que a platéia adorou:
Coldplay em São Paulo
Sucessão de lugares-comuns e
tosqueira mental, a apresentação
dos britânicos cativou o público
brasileiro com suas baladas xerocadas do Radiohead de dez anos
atrás.
Melhor show que a platéia adorou: White Stripes no Tim Festival
O show é como a banda: original, mas bem mais ou menos. O
público amou. Meg White, a baterista, fez caras meigas. Fofura
total.
Pesadelos do ano
Preta Gil existe.
Os Tribalistas ainda existem.
O Rapture veio tocar no Brasil.
Caê canta Nirvana.
Imagens do ano
Michael Jackson entra algemado na delegacia de polícia de Santa Bárbara, Califórnia.
Saddam Hussein é encontrado
pelos americanos num buraco,
com visual Los Hermanos.
Em 2004 tem mais, tchau.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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