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São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

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2003 para lembrar; 2003 para esquecer

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Melhores e piores de 2003, porque chegou a hora. A lista foge um pouco do convencional. Espero que você aguente até o fim.

Melhor disco do ano: "Welcome to the Monkey House", Dandy Warhols
A produção, do Duran Duran Nick Rhodes, é clara como um lago transparente, os arranjos mostram sensibilidade sem excessos, as canções são bem estruturadas, a banda (um quarteto, de Portland, Oregon, oeste dos EUA) está mais madura. O CD deixou "Escuta Aqui" arrastando a língua no chão porque se sustenta por méritos estritamente musicais. Não faz parte de uma "cena" ou de uma "tendência". Não caiu nas graças da cada vez mais vampiresca imprensa britânica. Os Dandy Warhols têm o que se chamava antigamente de "luz própria". Construíram e iluminam seu próprio caminho.

Melhores canções do ano: "Sumday", Grandaddy
Aqui, o índice de glamour é zero. O Grandaddy -quinteto liderado pelo inventor da coisa toda, Jason Lytle- vem de Modesto, Califórnia central, região agrícola às margens de uma das rodovias que cruzam o Estado de norte a sul. O isolamento geográfico, no entanto, não impede Lytle de compor canções de uma beleza quase sinfônica, sobre temas tão incomuns quanto computadores quebrados e executivos de vendas que passam alguns dias de descanso no campo. "Sumday" não é tão estiloso e marrento quanto o disco dos Dandy Warhols. Mas tem o mesmo espírito -uma espécie de desenvolvimento musical auto-sustentado.

Disco genial de um cara que todo mundo sabe que é gênio: "Hail to the Thief", Radiohead
"Kid A" foi assustador. "Amnesiac" talvez seja melhor esquecer. Mas "Hail to the Thief", o sucessor desses dois álbuns, reinstala Thom Yorke, o líder do Radiohead, no panteão dos deuses dos rock. Ele já pode se aposentar e, ainda assim, sua missão no século 21 estará cumprida.

Disco que divide o mundo: "Room on Fire", Strokes
Você vai ler de tudo sobre o segundo álbum dos Strokes. Que é ótimo porque é idêntico ao primeiro. Que é péssimo porque é idêntico ao primeiro. Que é ótimo porque é totalmente diferente do primeiro. Que é péssimo porque é totalmente diferente do primeiro. Melhor do que ler, no entanto, é ouvir o novo trabalho desses cinco moleques nova-iorquinos que não precisam seguir a moda -porque eles fazem a moda.

Disco ótimo que você não vai ver em nenhuma outra lista: "100th Window", Massive Attack
Mantendo a escrita, os dois componentes do núcleo central do Massive Attack, Robert del Naja e Daddy G, brigaram feio. Como resultado, o disco novo é na verdade um trabalho solo de Del Naja, adepto de texturas sombrias e climas idem. É um álbum menos reggae e menos black music em geral, já que essa é a praia do ausente Daddy G. Tirando os excessos de Sinead O'Connor, vocalista convidada, é um grande disco.

Discos que você vai ver em várias listas de melhores, menos nesta aqui
"Up the Bracket", Libertines

O mundo não precisa de um Strokes cover. Ainda.
"Youth and Young Man-hood", Kings of Leon
O pessoal de banda tem 16, 17 anos. Dá para perceber.
"Echoes", The Rapture
Só Preta Gil impede este de ser o pior lançamento do ano.
"Elephant", White Stripes
Não é ruim, mas o excesso de hype incomoda.

Melhor show do ano: Stereo Total no Sesc Pompéia (SP)
Dupla franco-germânica, que não junta mais do que 300 pessoas em sua Berlim natal, atraiu cinco vezes mais gente do que isso em São Paulo. Todo mundo canta e dança junto. Mais alto-astral impossível.

Pior show que a platéia adorou: Coldplay em São Paulo
Sucessão de lugares-comuns e tosqueira mental, a apresentação dos britânicos cativou o público brasileiro com suas baladas xerocadas do Radiohead de dez anos atrás.

Melhor show que a platéia adorou: White Stripes no Tim Festival
O show é como a banda: original, mas bem mais ou menos. O público amou. Meg White, a baterista, fez caras meigas. Fofura total.

Pesadelos do ano
Preta Gil existe.
Os Tribalistas ainda existem.
O Rapture veio tocar no Brasil.
Caê canta Nirvana.

Imagens do ano
Michael Jackson entra algemado na delegacia de polícia de Santa Bárbara, Califórnia.
Saddam Hussein é encontrado pelos americanos num buraco, com visual Los Hermanos.

Em 2004 tem mais, tchau.


Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br



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