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Manifestações pela paz reúnem jovens que nunca foram às ruas fazer protestos
Guerra?
Sou contra!
DA REPORTAGEM LOCAL
Nenhuma bomba teria caído sobre o
Iraque na noite de quarta (dia 19) se
dependesse das boas vibrações dos milhares de pessoas que foram à avenida
Paulista no último dia 15, na segunda
manifestação marcada exatamente para
um mês depois do maior protesto da história contra a guerra.Mesmo certa de
que os Estados Unidos e seus principais
aliados, a Espanha e a Inglaterra, atacariam o Iraque, a galera não desanimou e
tocou percussão, pintou o rosto, vestiu
camiseta de protesto, desenhou cartazes
e carregou bexigas, apitos e objetos que
estavam ali para chamar a atenção, como
chupetas, bonecas, colares de flores etc.
Embora a gritaria nos carros de som
viesse de líderes políticos, diferentemente do público de outras passeatas, muitos dos que participaram dessa não estão no
quadro de partidos ou de outros movimentos organizados.
Cada um a seu modo, Gabrieli Navarro, 17, Joana Netz, 20, e Joaquim Nascimento, 15, gostaram de sua estréia como
manifestantes de rua.
Gabrieli decidiu participar depois de
receber um e-mail sobre o protesto e se
juntou a Karina Bajon, 18, e a Vanessa
Guimarães, 17. Ela assume que já nutria
uma "antipatia" pelos EUA, que só piorou depois que George W. Bush foi eleito
presidente. As três também montaram
um blog (www.nerdsnews.weblogger.com.br), atualizado diariamente com
textos e notícias sobre o conflito.
Além de constatar que vários "gatinhos" frequentam as manifestações, a
primeira vez de Joana Netz também serviu para ela descobrir o movimento estudantil. "A partir de agora, vou me ligar
mais nisso", diz.
Já Joaquim Nascimento ficou espantado com algumas coisas. Principalmente
quando, no fim do percurso, um grupo
de punks queimou a bandeira do Brasil.
"Fiquei meio ofendido, mas achei o conflito interessante", explica.
A participação dos punks, aliás, só não
foi mais espalhafatosa do que a dos carros de som. Circulando em grupos, alguns carregavam bandeiras anarquistas,
enquanto outros cobriam o rosto com
lenços ou máscara antigás -como Enrique Ramon, 17, que não é de nenhuma
facção do movimento, mas se identifica
com a ideologia desde os 14 anos.
"Não sou bem-aceito pela forma como
eu me visto e só tenho a chance de protestar quando acontecem manifestações
de rua", conta Ramon, que costuma ir às
comemorações de Sete de Setembro.
Da ala radical, os primos Vinicius B.,
16, e Juliana R., 17, que se recusaram a dizer o sobrenome, fazem um fanzine e
chegam a boicotar produtos norte-americanos, como Coca-Cola e outras marcas. "Há vários refrigerantes nacionais,
como Convenção e Bacana. Também
uso o mínimo possível de roupas de
marca", conta Vinicius.
A maior preocupação dos mais engajados era o que iria acontecer depois da
guerra. Com um "kaffieh" (espécie de
manto utilizado pelos palestinos) sobre
os ombros, Frederico Elias, 19, que, entre
outras atividades, acompanhou os integrantes da delegação palestina no 3o Fórum Social Mundial, acredita que a guerra tire a autoridade de instituições multilaterais (como a ONU). "Isso desestrutura a Otan e também representa um atraso para a criação de um tribunal internacional", diz ele.
Outro que esteve no FSM, João Gabriel
Lima Priolli, 16, acha que tanto os Estados Unidos como a Inglaterra têm de ser
"julgados". "Eles não podem passar por
cima da ONU. Isso só vai aumentar o anti-americanismo", explica.
(ADRIANA FERREIRA)
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