UOL


São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Manifestações pela paz reúnem jovens que nunca foram às ruas fazer protestos

Guerra?
Sou contra!

DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhuma bomba teria caído sobre o Iraque na noite de quarta (dia 19) se dependesse das boas vibrações dos milhares de pessoas que foram à avenida Paulista no último dia 15, na segunda manifestação marcada exatamente para um mês depois do maior protesto da história contra a guerra.Mesmo certa de que os Estados Unidos e seus principais aliados, a Espanha e a Inglaterra, atacariam o Iraque, a galera não desanimou e tocou percussão, pintou o rosto, vestiu camiseta de protesto, desenhou cartazes e carregou bexigas, apitos e objetos que estavam ali para chamar a atenção, como chupetas, bonecas, colares de flores etc.
Embora a gritaria nos carros de som viesse de líderes políticos, diferentemente do público de outras passeatas, muitos dos que participaram dessa não estão no quadro de partidos ou de outros movimentos organizados.
Cada um a seu modo, Gabrieli Navarro, 17, Joana Netz, 20, e Joaquim Nascimento, 15, gostaram de sua estréia como manifestantes de rua.
Gabrieli decidiu participar depois de receber um e-mail sobre o protesto e se juntou a Karina Bajon, 18, e a Vanessa Guimarães, 17. Ela assume que já nutria uma "antipatia" pelos EUA, que só piorou depois que George W. Bush foi eleito presidente. As três também montaram um blog (www.nerdsnews.weblogger.com.br), atualizado diariamente com textos e notícias sobre o conflito.
Além de constatar que vários "gatinhos" frequentam as manifestações, a primeira vez de Joana Netz também serviu para ela descobrir o movimento estudantil. "A partir de agora, vou me ligar mais nisso", diz.
Já Joaquim Nascimento ficou espantado com algumas coisas. Principalmente quando, no fim do percurso, um grupo de punks queimou a bandeira do Brasil. "Fiquei meio ofendido, mas achei o conflito interessante", explica.
A participação dos punks, aliás, só não foi mais espalhafatosa do que a dos carros de som. Circulando em grupos, alguns carregavam bandeiras anarquistas, enquanto outros cobriam o rosto com lenços ou máscara antigás -como Enrique Ramon, 17, que não é de nenhuma facção do movimento, mas se identifica com a ideologia desde os 14 anos.
"Não sou bem-aceito pela forma como eu me visto e só tenho a chance de protestar quando acontecem manifestações de rua", conta Ramon, que costuma ir às comemorações de Sete de Setembro.
Da ala radical, os primos Vinicius B., 16, e Juliana R., 17, que se recusaram a dizer o sobrenome, fazem um fanzine e chegam a boicotar produtos norte-americanos, como Coca-Cola e outras marcas. "Há vários refrigerantes nacionais, como Convenção e Bacana. Também uso o mínimo possível de roupas de marca", conta Vinicius.
A maior preocupação dos mais engajados era o que iria acontecer depois da guerra. Com um "kaffieh" (espécie de manto utilizado pelos palestinos) sobre os ombros, Frederico Elias, 19, que, entre outras atividades, acompanhou os integrantes da delegação palestina no 3o Fórum Social Mundial, acredita que a guerra tire a autoridade de instituições multilaterais (como a ONU). "Isso desestrutura a Otan e também representa um atraso para a criação de um tribunal internacional", diz ele.
Outro que esteve no FSM, João Gabriel Lima Priolli, 16, acha que tanto os Estados Unidos como a Inglaterra têm de ser "julgados". "Eles não podem passar por cima da ONU. Isso só vai aumentar o anti-americanismo", explica.
(ADRIANA FERREIRA)


Texto Anterior: Fique atento
Próximo Texto: Escuta aqui: Para americanos, meter bala é coisa natural
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.