São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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CAPA

Juventude dourada

Para paulistanos classe aaa, querer é poder; círculo restrito é considerado uma 'Bolha'

Filipe Redondo/Folha Imagem
Caroline, 16: vestido com cristais Swarovski e festa de aniversário no terraço da Daslu, em SP

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
GUILHERME GENESTRETI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com um cartão de crédito na mão e uma ideia na cabeça, os jovens paulistanos de classe AAA compram sem olhar o preço na etiqueta, têm motorista à disposição para nunca precisar pegar ônibus e cultivam hábitos como velejar, participar de leilões de arte e viajar para o exterior duas vezes ao ano.
Vida boa? Pode ser. Em compensação, os teens super-ricos temem amizades por interesse, dizem que são julgados mais pela marca da roupa que vestem do que pelo que são e vivem pensando em segurança.
Tanto que ocultar sobrenomes foi condição para as entrevistas da reportagem.
João, 17, não reclama dessa vida, que sustenta hábitos e vaidades. "Tenho mais gravatas do que meu pai!", diz. Bebida preferida? Um vinho Château Mouton-Rothschild, safra 1982, cuja garrafa não sai por menos de R$ 3.000.
Recentemente, o estudante tomou gosto por leilões de arte. No Jockey Club de São Paulo, arrematou uma vaquinha da Cow Parade por R$ 5.000. Naquela noite, estava com a irmã, Victoria, 18, que adora bolsas Gucci mas elege "Havaianas e pijama" sua combinação perfeita.
Para João, os super-ricos são "uma minissociedade", em que dinheiro nem sempre é sinônimo de felicidade. "Você vai à prova da Fuvest de motorista e é um choque!"

Querer é poder
Caroline, 16, queria um baile de máscaras para seus 15 anos. Como querer, para ela, é poder, um vestido incrustado de cristais Swarovski foi logo encomendado.
Humberto Carrão, um dos galãs de "Malhação", rodopiou com a debutante no salão da Daslu, para-raios das grifes caras em São Paulo. Sua mãe ainda contratou acrobatas do Cirque du Soleil e cantores líricos.
Um ano depois, paramentada com jóias Tiffany, Caroline diz que dinheiro faz diferença, mas não é tudo. "Tem muita gente interesseira."
As coisas costumam chegar às suas mãos antes mesmo que ela as deseje. "Tudo o que sai, não dá nem tempo de ela querer: iPhone, iPod...", diz a mãe. Mas a garota diz não gostar do comportamento dos "esbanjões". "Odeio gente fútil", diz.
André, 17, recebe mesada de R$ 200, apesar de ter passe livre do pai para usar o cartão de crédito em "emergências", quando o dinheiro acaba. Ele complementa a renda vendendo o que não quer mais no Mercado Livre, como camisetas de marca e notebooks e iPods ultrapassados.
O adolescente prefere levar os amigos para o iate da família a cair na balada. Para chegar à praia, tem como opção o helicóptero do pai.

FORA DA BOLHA
André reconhece que há outra realidade atrás dos muros que o cercam. "Sei que vivo numa bolha, mas é aqui que estão os meus amigos."
Já Adriano, 17, diz que estourou a bolha. Vai de ônibus ao colégio e decidiu sair da antiga escola por achá-la "playboy demais".
Para ele, tudo mudou aos 11 anos, quando fez intercâmbio e conheceu gente do mundo inteiro. "Uns eram negros, outros, asiáticos. A gente aprende que ter diferenças é importante."
Sentado no sofá de casa, André fala sobre a vida de um super-rico. "É bem mais fácil, e isso é uma desvantagem. Posso não aprender os problemas do mundo real."



Teens classe AAA são menos de 1% da população do Estado de São Paulo e cerca de 0,6% dos brasileiros

Adoram bolsas Gucci, modelo transversal (R$ 2.000)

80% deles se consideram consumistas

Frequentam o clube Pink Elephant: entradas custam R$ 70 (meninas) e R$ 150 (meninos) A garrafa de champanhe custa R$ 525 e seu comprador tem o nome anunciado pelo DJ

Fontes: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Reportagem Local e Datafolha (Jovens Brasileiros, maio de 2008)


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