São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eu vivi

JAIRO MARQUES
COORDENADOR-ASSISTENTE DA AGÊNCIA FOLHA

Demorou para que eu conseguisse entender o que se passava ao meu redor durante os anos em que eu começava a sentir o poder do som do Metallica, a dar atenção às manifestações mais assanhadas dos meus hormônios e a querer experimentar o sabor de beijar na boca.
Da infância rodeada de amigos, me vi adolescente meio que "abandonado", um ser esquisito numa cadeira de rodas. E não foi fácil tolerar o fato de que o ser "diferente" e relativamente "dependente" tem poucas chances de se dar bem na adolescência, período em que o espírito de aventura se aguça em todo o mundo e em que ser descolado tem pouco a ver com muletas, cão-guia, aparelho no ouvido, rodas e pneus.
Aos poucos, percebi que, para chamar a atenção da mulherada, eu tinha de dar um tempo e me "preparar" para o futuro. Nele, ser "descolado" teria menos relevância do que ser um cara que curte a vida e que sabe contar boas histórias.
Isso não quer dizer que eu tenha me trancafiado, com vergonha de minha condição física. Superar é quase um sobrenome de quem tem alguma deficiência. Então, a bordo da minha cadeira, reinventei amigos de fato amigos, firmei a ideia de que minhas pernas finas tinham lá o seu charme e curti um bocado de rock.


O autor é cadeirante e edita o blog assimcomovoce.folha.blog.uol.com.br


Texto Anterior: Caminhos eficientes
Próximo Texto: Agenda
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.