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economia
Em crise
Pesquisa
mostra que, no Brasil, crise aflige mais os teens do que os adultos
CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A vida de Samia Pereira, 14, anda bem estressante.
Seu pai, metalúrgico, foi demitido
em março por causa da crise
econômica e ainda não conseguiu um novo emprego.
A menina tenta economizar
em casa: parou de acessar a internet (discada) nos dias de semana e não gasta um centavo
com compras supérfluas -seguindo o exemplo do resto da
família. Nesse ritmo, as economias domésticas devem durar
até dezembro.
Ela se preocupa muito com o
que vem depois disso. E não é
só ela. Pelo menos é o que sugere uma pesquisa feita em abril
pela agência de publicidade
JWT, com 546 brasileiros.
Entre os entrevistados, 69%
dos jovens de 13 a 19 anos disseram estar nervosos com a crise
econômica mundial. Já entre
os maiores de 23 anos -geralmente responsáveis por sustentar suas famílias- o número dos que dizem estar tensos
com a crise cai para 66%.
O fenômeno acontece só no
Brasil. Nos outros cinco países
onde o levantamento com jovens foi feito, eles nunca estão
mais preocupados do que os
adultos (veja gráfico ao lado).
Isso talvez se explique por
motivos práticos: aqui, a crise
chegou ao bolso da moçada. A
mesada de um terço (34%) dos
jovens entrevistados diminuiu
de 2008 para 2009.
Carreira ou beleza
A queda na renda faz com
que alguns jovens repensem
suas prioridades.
Prestes a fazer 18 anos, Rafael Moraes trabalha à tarde em
uma papelaria e faz bicos de informática. Com a renda mensal
de R$ 200, paga as aulas de
computação e o dentista.
"Tiro o aparelho, se for preciso, mas vou continuar pagando
o curso, que é um diferencial na
carreira", diz.
Não que ele precise, pois seu
pai se deu bem com a crise. Fabricante de caçambas para entulho, ele não mudou seus preços. Mas a matéria-prima está
mais barata, e seu lucro, maior.
Como Rafael, os jovens da
pesquisa consideram seu futuro profissional uma prioridade.
Carreira foi a segunda maior
preocupação declarada -só
atrás de poluição ambiental.
Quando o papo é consumo, a
preocupação dos jovens de 13 a
19 anos é com o Orkut nosso de
cada dia: 92% dos entrevistados disseram que sofreriam para largar a internet.
A fissura pela rede e por celulares (80% não falaria menos
tempo no aparelho) é lógica, diz
Ken Fujioka, diretor de planejamento da JWT.
"O que os adolescentes nunca abandonam é a relação entre
eles. Internet e telefone celular
ajudam essas relações a acontecer mais vezes e em diferentes
níveis", diz Ken.
Para o executivo, os momentos difíceis podem mudar hábitos de consumo, mesmo os de
quem não foi afetado pela crise.
Crise? Que crise?
Juliana Kaufmann, 18, integra a metade dos entrevistados
que diz não haver crise em casa.
E aproveita: usa o salário do
estágio numa agência de comunicação para pagar noitadas,
maquiagem e roupas.
Mas, por mais que ache que
"adolescente não liga muito para essas coisas", ela acredita
que "uma hora, [a crise] chega".
Se isso acontecer, ela diz que
deixaria as gastanças com figurino e "make", que chama de "o
fútil", de lado -diferente dos
70% de teens que não diriam
"tchau" às compras de roupas.
Mas ela acha que não vai precisar apertar o cinto: "Estagiários não estão sendo mandados
embora do emprego. Por serem
os cargos mais baixos, têm seu
emprego garantido", afirma.
Mesmo com sua mãe, empresária, sendo obrigada a demitir
funcionários, Juliana diz que
nunca conversou sobre o abalo
econômico em casa. Assim como 64% dos jovens da pesquisa.
Em uma coisa, no entanto,
Juliana concorda com a preocupada Samia: é preciso ser otimista. Enquanto a primeira diz
que "a gente tem que ter esperança, mas sempre se informando", a segunda torce para
que tudo acabe: "[A crise] tem
que passar rápido. Se não passar rápido, tá tudo ferrado!"
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