São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Música

Recife'n'roll

Em pleno Carnaval, festival recifense troca frevo por funk, folk, rock e MPB; Tim Maia e Itamar Assumpção foram homenageados com shows-tributo

RAMIRO ZWETSCH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM RECIFE

O frevo não está com nada. A constatação é de Tom Zé, e ele tem certa razão: pelo menos no palco do Rec Beat, em Recife, os cem anos do ritmo pernambucano foram solenemente ignorados em pleno Carnaval. No resto da cidade, em compensação, foi celebrado à exaustão. A 12ª edição do festival reuniu 26 atrações de todos os cantos do país e cumpriu seu papel.
Deu visibilidade para boas novas, assistiu a ressurreições e confirmou vocações pop. Mostrou ainda consistência em apresentações de artistas como Curumin & the Aipins e do próprio Tom Zé, que viu seu show oscilar no momento em que arriscou uma homenagem ao frevo e, por isso, soltou a primeira frase desse texto. O deslize não impediu o baiano de cumprir seu papel: fez o show mais aplaudido.
A segunda noite foi do Bonde do Rolê. O primeiro show da banda no Nordeste, com suas letras sacaninhas e uma performance nada comportada, fez o público do Rec Beat sorrir e pular. "Todo mundo levanta a mão aqui. É só pedir que o povo realmente interage", disse Pedro D'Eyrot, do Bonde.
A faixa etária do "povo", aliás, era menor que a da banda, que gira em torno dos 20. "É porque eles ainda acham engraçadas letras cheias de palavrão", decifra a cantora Marina Ribatsky.
Mais adulta em todos os sentidos, a apresentação do Isca de Polícia foi na direção inversa: a banda do saudoso Itamar Assumpção (morto em 2003) se apresentou acompanhada de Anelis Assumpção, filha do homem, e demonstrou que a obra do compositor preserva sua vitalidade. Os arranjos entrelaçados pelos nós de cada verso torto das letras instigam, fogem do óbvio.
O outro show-tributo do festival foi a fase "racional" de Tim Maia, celebrada por 15 músicos capitaneados pelo tecladista Daniel Ganjaman, do coletivo paulistano Instituto. O entrosamento e o respeito à maioria dos arranjos originais fizeram o groove rolar redondo.
A surpresa ficou por conta do folk do Vanguart. A simplicidade do som, calcado na voz, no violão, nas letras e na personalidade de Hélio Flanders, 22, transparece também na conversa com o sujeito. "Hoje, a nossa influência é Tom Jobim, afro-sambas... Por mais estranho que isso possa parecer."
Estranho mesmo: essas referências passam longe do que se viu no show e do que está no myspace da banda (www.myspace.com/vanguart). Tem potencial.


O jornalista Ramiro Zwetsch viajou a convite da organização do Festival Rec Beat


Texto Anterior: Montage faz show virtual
Próximo Texto: Música: Jared, o emo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.