São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Álvaro Pereira Júnior
cby2k@uol.com.br

Seleção, rock e críticos

"UM IRRESPONSÁVEL, só pensa em driblar, esquece do time." Na Copa do Chile, em 62, boa parte dos comentaristas dizia isso de Mané Garrinha. O Brasil acabou campeão. Melhor jogador? Ele mesmo, o "irresponsável" Garrincha.
"Buuuuuuu!". Era a torcida reclamando da seleção brasileira, num amistoso antes da Copa de 70. Brasil 0 x 0 Paraguai, no Maracanã. Meses depois, a equipe que deixou o Brasil desacreditada ganharia a Copa do México. Muitos a consideram a melhor de todos os tempos.
O time de 82, de Telê Santana, é tido hoje como o máximo em futebol-arte. Mas, pouco antes de aquela Copa começar, o clima também não era bom. A imprensa batia sem dó.
Ou seja, nada como a passagem do tempo para dar às coisas a verdadeira dimensão. Isso vale para o futebol e... para o rock. Até os Beatles foram vítimas. Em 66, o grupo de Liverpool lançou "Revolver", que 99% das listas atuais apontam como o melhor álbum de todos os tempos. Tem "Eleanor Rigby", "I'm Only Sleeping", "Tomorrow Never Knows" e outros clássicos. Hoje, uma unanimidade absoluta, um trabalho genial. Mas, quando foi lançado, será que "Revolver" recebeu imediatamente tratamento de obra de arte? Não!
A revista "Uncut" deste mês publica um texto hilário sobre "Revolver", escrito, em julho de 1966, por ninguém menos que Ray Davies, líder dos Kinks.
Davies, atacando de crítico, desce o malho. Sobre Eleanor Rigby: "Parece que eles [os Beatles] estão querendo agradar professores de música em escolas primárias". "Love You Too": "Eu fazia esse tipo de música dois anos atrás". "Yellow Submarine": "É uma grande porcaria". "I Want to Tell You": "Não é digna do padrão dos Beatles". Avaliação final: ""Rubber Soul" [álbum anterior] tinha canções melhores". O que diria Ray Davies da Seleção Brasileira de 2006? E daqui a 40 anos, qual será a avaliação dos historiadores do esporte?

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