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Moscou 360°
JOVENS RUSSOS INVADEM PRÉDIOS APENAS PARA APRECIAR A VISTA DA CIDADE LÁ DO ALTO
Valeri Nistratov/"The New York Times"
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Oleg Muravlyov (à esq.) e seus amigos no alto de um prédio na capital russa
DO NEW YORK TIMES
Um jovem aperta vários
botões num interfone. Ao ouvir o som da tranca da porta
se abrir, ele desaparece nas
sombras do lobby do prédio.
Após alguns minutos, ele pisa no telhado do edifício,
olhando Moscou de cima.
"É isso o que os "roofers"
querem", disse Dmitri Yermakov, 18, que integra a nova subcultura jovem dessa cidade de construções baixas.
Seus integrantes, chamados de "roofers" ("telhadeiros", na tradução livre do inglês), gostam de invadir prédios, não para cometer nenhum roubo ou crime, mas
para chegar aos telhados e
observar a cidade lá do alto.
Eles são como uma sociedade secreta que descobriu
algo novo e extraordinário.
A maior parte dos prédios
de Moscou tem fechaduras
controladas por códigos. Essas senhas foram quebradas
por "roofers" que experimentaram várias combinações
entre os botões mais gastos
de seus painéis.
Outras vezes, os "roofers"
enganam algum morador pelo interfone: fingem que são
carteiros ou um vizinho que
esqueceu as chaves.
Seja como for, eles evitam
dividir a senha do acesso a
um prédio com outros "roofers": o afluxo de "visitantes"
poderia atrair a atenção dos
moradores. A polícia é outra
preocupação: invasão é considerado um tipo de vandalismo e está sujeito a multa.
"Subir nos telhados é algo
que ajuda a quebrar a rotina", afirmou Yermakov, que
aprecia a solidão dos telhados porque eles ficam longe
do agito das ruas de Moscou
- cidade com mais de 10 milhões de habitantes.
Outro "roofer", Oleg Muravlyov, 17, classifica a atmosfera dos telhados como
algo quase espiritual. "É
ruim que estejam nos confundindo com vândalos. Nós
não danificamos os prédios",
defendeu. "Somos guiados
pelo desejo de pensar no que
é importante em nossas vidas, fora do tumulto."
Uma vez que a prática de
subir em telhados é ilegal,
não há números precisos sobre o fenômeno. A maioria
das invasões de telhados
acontece em grupos pequenos de dois ou três.
Desde os tempos dos czares, a altura dos prédio de
Moscou é restrita. No século
18, uma norma informal bania qualquer construção de
ser mais alta do que as torres
do Kremlin. Restrições informais continuaram durante o
regime soviético e permanecem até hoje.
Alguns "roofers" transformaram a aventura em dinheiro: levam estrangeiros
para turnês nos melhores telhados da cidade.
Para Kseniya Nesterova,
19, ser "roofer" é um dom.
"Você tem de ter algo de explorador, como Cristóvão Colombo", exagera.
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