São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2010

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Moscou 360°

JOVENS RUSSOS INVADEM PRÉDIOS APENAS PARA APRECIAR A VISTA DA CIDADE LÁ DO ALTO

Valeri Nistratov/"The New York Times"
Oleg Muravlyov (à esq.) e seus amigos no alto de um prédio na capital russa

DO NEW YORK TIMES

Um jovem aperta vários botões num interfone. Ao ouvir o som da tranca da porta se abrir, ele desaparece nas sombras do lobby do prédio. Após alguns minutos, ele pisa no telhado do edifício, olhando Moscou de cima.
"É isso o que os "roofers" querem", disse Dmitri Yermakov, 18, que integra a nova subcultura jovem dessa cidade de construções baixas.
Seus integrantes, chamados de "roofers" ("telhadeiros", na tradução livre do inglês), gostam de invadir prédios, não para cometer nenhum roubo ou crime, mas para chegar aos telhados e observar a cidade lá do alto.
Eles são como uma sociedade secreta que descobriu algo novo e extraordinário.
A maior parte dos prédios de Moscou tem fechaduras controladas por códigos. Essas senhas foram quebradas por "roofers" que experimentaram várias combinações entre os botões mais gastos de seus painéis.
Outras vezes, os "roofers" enganam algum morador pelo interfone: fingem que são carteiros ou um vizinho que esqueceu as chaves.
Seja como for, eles evitam dividir a senha do acesso a um prédio com outros "roofers": o afluxo de "visitantes" poderia atrair a atenção dos moradores. A polícia é outra preocupação: invasão é considerado um tipo de vandalismo e está sujeito a multa.
"Subir nos telhados é algo que ajuda a quebrar a rotina", afirmou Yermakov, que aprecia a solidão dos telhados porque eles ficam longe do agito das ruas de Moscou - cidade com mais de 10 milhões de habitantes.
Outro "roofer", Oleg Muravlyov, 17, classifica a atmosfera dos telhados como algo quase espiritual. "É ruim que estejam nos confundindo com vândalos. Nós não danificamos os prédios", defendeu. "Somos guiados pelo desejo de pensar no que é importante em nossas vidas, fora do tumulto."
Uma vez que a prática de subir em telhados é ilegal, não há números precisos sobre o fenômeno. A maioria das invasões de telhados acontece em grupos pequenos de dois ou três.
Desde os tempos dos czares, a altura dos prédio de Moscou é restrita. No século 18, uma norma informal bania qualquer construção de ser mais alta do que as torres do Kremlin. Restrições informais continuaram durante o regime soviético e permanecem até hoje.
Alguns "roofers" transformaram a aventura em dinheiro: levam estrangeiros para turnês nos melhores telhados da cidade.
Para Kseniya Nesterova, 19, ser "roofer" é um dom. "Você tem de ter algo de explorador, como Cristóvão Colombo", exagera.


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