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MÚSICA
Damon & Naomi, ex-Galaxie 500, se apresentam no Brasil
Tristeza não tem fim
DA REPORTAGEM LOCAL
D epois da bomba sobre o cancelamento do Free Jazz e do sonho de
ver Radiohead ao vivo ter ido por
água abaixo, os shows no Brasil do
duo Damon & Naomi ganham um
brilho especial.
Remanescentes de uma das bandas mais influentes do pós-punk
-o trio cult norte-americano Galaxie 500-, o baterista Damon Krukowski e a baixista Naomi Yang já
pensaram em abandonar a música e
investiram em uma editora de livros
de literatura experimental.
"Passamos a tocar em casa por
prazer. Levou um tempo, mas percebemos que poderia ser legal levar
novamente ao público o nosso prazer íntimo de fazer música", explica
Damon. "Não vivemos mais de música, o que por um lado é ótimo: tocamos quando queremos, compomos quando estamos com vontade
e não temos o compromisso de gravar um disco por ano", diz Naomi.
Hoje, a dupla coleciona cinco discos carregados da herança melancólica e etérea do antigo grupo:
"More Sad Hits" (92) -que nasceu
como um "álbum de despedida" e
acabou virando o primeiro da série-, "Wondrous World of Damon & Naomi" (95), "Playback
Singers" (98), "Damon & Naomi
With Ghost" (2000), gravado com
parte do grupo japonês de rock psicodélico Ghost, e "Song to the Siren:
Live in San Sebastian", lançado neste ano nos EUA.
É o guitarrista do Ghost, Michio
Kurihara, quem tocará com a dupla
na terça (27/8) e na quarta-feira
(28/8) no Sesc Vila Mariana (R. Pelotas, 141, tel. 0/xx/ 11/5080-3000),
com ingressos a R$ 20.
Leia a seguir trechos da entrevista
concedida ao Folhateen.
(FERNANDA MENA)
Folha - Por que escrever tanto a respeito de tristeza e de melancolia?
Damon - Canções tristes são um
paradoxo porque música é algo
muito positivo, tanto de ouvir quanto de tocar, e, mesmo sendo melancólica, ela nos traz um sentimento
bom. Muita gente nos diz: "A música é ótima, mas é muito, muito triste". Só que há uma dose de esperança na melancolia. Até onde compreendo a língua portuguesa, a palavra "saudade" é assim: algo triste,
mas não ruim. Não acho que existe
só uma idéia triste em nossa música.
Ela agrega sentimentos de contentamento e apreciação da vida. Percebemos isso nos shows. Quando você
não é o vocalista, percebe o som de
uma forma mais geral. Quando cantamos, descobrimos que as pessoas
realmente ouvem as letras. É como
uma conversa ou uma confissão. A
conexão se revela mais intensa.
Folha - Vocês ainda ouvem punk
rock hoje em dia?
Naomi - Não muito. Ficamos melancólicos demais quando ouvimos
punk rock (risos).
Damon -Outro dia fomos assistir
a um documentário sobre os Sex
Pistols e estávamos praticamente
chorando (risos). Ficamos tão sensíveis a isso. Na tela passava a imagem
de punks quebrando guitarras e nós
achando aquilo uma "gracinha". O
que ficou foi uma nostalgia. E o pior
é que hoje o que mais ouvimos são
as músicas que os punks detestavam: folk anos 60 e psicodelia.
Naomi - É, hoje gostamos de todos os hippies que queríamos matar
quando éramos punks.
Folha - Como é ouvir Galaxie hoje?
Damon - É engraçado... Aquela
música foi totalmente acidental. Era
o tipo de som que fazíamos juntos
sem nenhum plano ou estudo. Ouvir o Galaxie 500 hoje é como ler
uma carta que se escreveu há anos
ou olhar para uma foto de quando se
era bem mais jovem. É essa a sensação. A música que toca nossas cabeças hoje é diferente. Não queremos
mais soar como o Velvet Undergroud.
Naomi - Não éramos capazes de
tocar de nenhuma outra maneira
(risos). Quando o Galaxie 500 terminou, em 91, a banda não tinha a aura que tem hoje. Nosso último show
foi visto por 15 pessoas. Não éramos
populares, não havia pressão para
que continuássemos.
Folha - O que esperam da passagem
pelo Brasil?
Naomi - Nunca estivemos na América do Sul. Não sei o que esperar.
Damon- Por outro lado, somos fãs
de música brasileira, e as letras que
já traduzimos nos deram uma idéia
do país. Sabemos também que há
uma grande colônia japonesa aí.
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