São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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02 NEURÔNIO

Escrevendo vidas

JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAQ AFFONSO


A situação é hipotética. Não sei se vocês acreditam em destino, livre arbítrio, karma. Se crêem que existe vida depois da morte, que programas de milhagem valem a pena ou até mesmo se acreditam em Deus. Supondo que haja um céu e que -mesmo que sejamos responsáveis por nossos atos- o Todo Poderoso dê uma espécie de rumo às nossa vidas.
Somos bilhões e bilhões de pessoas e Deus está sempre com trabalho atrasado. Por isso, resolve contratar roteiristas para ajudá-lo. E é disso que depende a sua vida. Ela pode se transformar num drama, numa comédia romântica com final feliz ou no mais puro tédio. Vai dizer que tem dias que você não acha que sua vida é escrita pelo...

Luis Buñuel (cineasta espanhol surrealista, diretor de "O Anjo Exterminador", um filme onde as pessoas ficam presas em uma festa sem conseguir sair dela -dá muita aflição)
Os acontecimentos não têm nexo. Você começa a sair com um cara incrível até que um dia ele diz a você que já é casado. Com uma ovelha. Aí você se separa e começa a freqüentar orgias, só que em vez de fazer sexo, os participantes ficam falando frases loucas. É exagero. Mas, às vezes, temos a sensação de que há algo de surreal em nossas vidas.

Hitchcock (o gênio do suspense)
Sua existência será cercada de suspense. Uma noite, você está arrumando uns papéis na sala e de repente vê um assalto e uma perseguição de carros no estacionamento em frente. Bem "Janela Indiscreta". E o pior é que isso aconteceu mesmo com uma de nós!

Groucho Marx (o comediante mais importante dos anos 30)
Você resolve ir a uma mostra de videoarte insuportável. Você começa a falar mal da videoarte, aí escorrega numa casca de banana no museu e todos os artistas plásticos começam a rir de você. Isso também já aconteceu.

Eric Rhomer ou Godard (cineastas da nouvelle vague)
Achamos que a nossa vida parece um filme do Rohmer ou do Godard quando estamos brincando de morar na França. Viramos existencialistas, glamourosas, passamos o dia de boina, sentadas em cafés e falando sobre os males do mundo e do amor. Nosso charme é sutil. É claro, a vida nouvelle vague é triste. Mas é bonita. Achamos que a nossa vida é assim quando sofremos e damos um jeito de transformar esse sofrimento em algo, digamos, glamouroso.

Gilberto Braga
Às vezes aparecem em nossas vidas uns clones da Laura, aquela vilã de "Celebridades". Essa é uma vida horrível, com planos de vingança e decadências terríveis.

Roteirista anônimo ruim
Como são seis bilhões de pessoas, Deus é obrigado a escalar profissionais ruins. Nesse caso, sua vida é um tédio. O dia passa e nada importante acontece. Os personagens são péssimos e estereotipados. A começar por você, que só fala clichês.

Momentos de histeria

A vida tem dias de capítulos ruins


@ - 02neuronio@uol.com.br


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