São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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O NOVO ANTI-HERÓI

BEST-SELLER NA ALEMANHA, LIVRO QUE REMETE A "O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO" CHEGA AO PAÍS; COM CÂNCER, AUTOR JÁ NÃO CONSEGUE FALAR

DE SÃO PAULO

Maik, 14, "tinha o maior medão de ser o cara mais tedioso da face da Terra".
Na escola, era um zé-ninguém. Sequer apelido tinha. Na verdade, até ganhou um: Psico (...pata). Mas ninguém dava bola para ele, e a gracinha acabou não pegando.
Gostava tanto de uma garota que chegou a cometer o "sacrifício" de, argh, tolerar a artista preferida dela, a Beyoncé. Mas Tatjana fez aniversário e convidou a todos, menos ele e outros poucos.
Esse sentimento de não pertencer a lugar algum apavora o protagonista de "Tchick", best-seller alemão (120 mil exemplares vendidos) que chega neste mês ao Brasil, pela editora Tordesilhas. O próprio livro soa deslocado na cultura teen: afinal, se não é vampiro galã ou superbruxo...
Corta para 1951: quando "O Apanhador no Campo de Centeio" foi lançado, você, jovem leitor, não era nascido. Mesmo a ideia de ser adolescente ainda estava na barriga da cultura ocidental. É isso aí: a juventude não era reconhecida como uma fase da vida.
No livro de J.D. Salinger, o cínico Holden Caulfield contava suas agruras juvenis numa linguagem que falava diretamente a essa galera tão mal representada na época.
De volta ao século 21. Essa típica insegurança de menino é a espinha espiritual que Maik tenta espremer quando decide que "isso de se divertir está mais ou menos certo".
Entra na saga Tchick, o novo aluno que chega "mamado" na aula -Maik reconhece o cheiro de álcool de longe, pois tem uma mãe adepta do "spa" (codinome para rehab).
Nas férias, os dois "geeks" fazem picadinho do tédio: percorrem a Alemanha dentro de uma lata-velha roubada. Disfarçam a idade com fita adesiva preta (para forjar barba), capotam o carro...
O autor do livro é Wolfgang Herrndorf, 46. Com câncer cerebral, ele já não consegue falar. É de 23 de agosto seu último post no blog onde descrevia seu estado de saúde. Curiosamente, termina assim: "Mas, de algum modo, tudo bem".
A angústia de Maik e Holden é adolescer num mundo hostil aos dois. De algum modo, tudo ficará bem para eles também. (ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER)


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