São Paulo, segunda-feira, 27 de abril de 2009

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música

Toca Raul!!!

Fãs nascidos após morte do "maluco beleza" preparam-se para a homenagem de 24h ao som do roqueiro

CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles não nasceram dez mil anos atrás. Na verdade, chegaram depois de 1989, ano da morte de Raul Seixas.
Mesmo assim, estão doidos para ouvir 24 horas de Raul, em palco dedicado só ao roqueiro, na quinta Virada Cultural de São Paulo. A homenagem contínua será na av. Cásper Líbero (metrô Luz) e começa às 18h15 de 2 de maio, indo até às 18h do dia seguinte, com interpretações de 19 CDs de Raul.
Dentre os artistas que prestam reverência, Os Panteras (primeira banda de Raul), Nasi (ex-Ira!), Marcelo Nova (último músico a tocar com ele) e Kika e Vivi Seixas (sua ex-mulher e filha, respectivamente).
O clima família do palco vai também para a plateia. Bruna Moraes, 18, diz que aprendeu a ouvir Raul em casa, "desde a barriga".
Com o tempo, acabou por superar o pai na paixão: comprou uma cópia do raro disco "Raul Seixas e os Panteras". Como o pai não tinha, deu para ele.
Também dá de presente as camisetonas bacanas com estampas do ídolo, já que diz não encontrar "baby looks" do cantor para uso próprio.
Mas, por mais que se esforce, não vai superar a admiração paterna em um quesito: ter visto o ídolo no palco. "Meu pai foi a vários shows. Eu preciso me contentar com os "covers"."
Mas Bruna não reclama. Está ansiosa pela Virada. Planeja ficar até a meia-noite, ir para casa e voltar às nove da manhã. Tem medo de ficar só à noite.
Papai não vai, porque diz não gostar de multidão. Mas ela cogita usar a técnica do "eu gosto por sua causa!" para garantir a companhia paterna.
Terceira geração de uma família "raulseixista", Caroline Santos, 19, pegou gosto pelo rock por causa do avô, de 87 anos, e do tio.
Depois de emprestar os vinis dos dois por anos, baixou a discografia completa e ganhou alforria. Hoje, tem até "cover" predileto -"o Roberto Seixas, que é meio chato, mas é o que mais se parece com ele, na voz".
Foi sozinha às três últimas passeatas que ocorrem todo 21 de agosto, aniversário da morte do artista, em São Paulo.
Por enquanto, também estará sozinha na "rave Raul", onde jura ficar por todos os 86.400 segundos de show.
"Se for o caso, conheço gente lá mesmo. Com Raul, todo mundo é amigo."
Se o gosto pelo "maluco beleza" parece coisa genética, Caio Dias, 15, prova que não é bem assim. Fã de metal, entrou em contato com o som de Seixas faz um ano, assistindo à MTV.

Ocultismo explícito
Curioso pela imagem do loucão no palco, com o torso nu pintado de batom, foi atrás da música. Gostou. Não foi só isso: ficou fascinado pelo ocultismo em que o cantor acreditava.
"Minha mãe gosta da música, mas não muito desse papo", diz ele, que quer estudar mais as letras místicas de Raul, que escreveu com Paulo Coelho.
Para Caio, a maior mensagem encontrada nas músicas é "faça o que tu queres, pois é tudo da lei", de "Sociedade Alternativa". "Mas ele sabia que tudo tinha consequências", diz.
O fã "headbanger" diz que vai chegar às 18h em ponto na Virada, com uma amiga, e ficar até acabar. "Ficar é bem fácil."
Se ficar é fácil, ir pode ser difícil. Deiverson Franz, 17, diz ser, possivelmente, o único fã de Raul entre os cerca de 10 mil habitantes de Nova Trento (SC). Vai encarar oito horas de estrada para ver o show.
Além de comprar toda a discografia do roqueiro com o dinheiro que ganha fazendo molduras, Deiverson também adotou o sobrenome "Seixas" para tudo -menos no RG.
"Eu tinha o cabelo parecido com ele, mas acabei de cortar!", diz. Foram-se os fios, ficou a roupa: inspirado por Raul, ele usa calça jeans e óculos Ray-Ban o tempo todo.
Afirma que irá ao show vestido assim, antes de confirmar o preço do ingresso. Ao ficar sabendo que a Virada é gratuita, solta um: "Nossa! Então é tipo uma "Sociedade Alternativa'".
Tipo a comunidade hippie do cantor, 20 anos depois e com público renovado pelo tempo.
E ai de quem atrapalhar o som gritando a famigerada frase:
"Toca Rauuul!".


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