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música
Toca Raul!!!
Fãs nascidos após morte do "maluco beleza" preparam-se para a homenagem de 24h ao som do roqueiro
CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles não nasceram
dez mil anos atrás.
Na verdade, chegaram depois de 1989,
ano da morte de
Raul Seixas.
Mesmo assim, estão doidos
para ouvir 24 horas de Raul, em
palco dedicado só ao roqueiro,
na quinta Virada Cultural de
São Paulo. A homenagem contínua será na av. Cásper Líbero
(metrô Luz) e começa às 18h15
de 2 de maio, indo até às 18h do
dia seguinte, com interpretações de 19 CDs de Raul.
Dentre os artistas que prestam reverência, Os Panteras
(primeira banda de Raul), Nasi
(ex-Ira!), Marcelo Nova (último músico a tocar com ele) e
Kika e Vivi Seixas (sua ex-mulher e filha, respectivamente).
O clima família do palco vai
também para a plateia. Bruna
Moraes, 18, diz que aprendeu a
ouvir Raul em casa, "desde a
barriga".
Com o tempo, acabou por superar o pai na paixão: comprou
uma cópia do raro disco "Raul
Seixas e os Panteras". Como o
pai não tinha, deu para ele.
Também dá de presente as
camisetonas bacanas com estampas do ídolo, já que diz não
encontrar "baby looks" do cantor
para uso próprio.
Mas, por mais que se esforce,
não vai superar a admiração paterna em um quesito: ter visto o
ídolo no palco. "Meu pai foi a
vários shows. Eu preciso me
contentar com os "covers"."
Mas Bruna não reclama. Está
ansiosa pela Virada. Planeja ficar até a meia-noite, ir para casa e voltar às nove da manhã.
Tem medo de ficar só à noite.
Papai não vai, porque diz não
gostar de multidão. Mas ela cogita usar a técnica do "eu gosto
por sua causa!" para garantir a
companhia paterna.
Terceira geração de uma família "raulseixista", Caroline
Santos, 19, pegou gosto pelo
rock por causa do avô, de 87
anos, e do tio.
Depois de emprestar os vinis
dos dois por anos, baixou a discografia completa e ganhou alforria. Hoje, tem até "cover"
predileto -"o Roberto Seixas,
que é meio chato, mas é o que
mais se parece com ele, na voz".
Foi sozinha às três últimas
passeatas que ocorrem todo 21
de agosto, aniversário da morte
do artista, em São Paulo.
Por enquanto, também estará sozinha na "rave Raul", onde
jura ficar por todos os 86.400
segundos de show.
"Se for o caso, conheço gente
lá mesmo. Com Raul, todo
mundo é amigo."
Se o gosto pelo "maluco beleza" parece coisa genética, Caio
Dias, 15, prova que não é bem
assim. Fã de metal, entrou em
contato com o som de Seixas
faz um ano, assistindo à MTV.
Ocultismo explícito
Curioso pela imagem do loucão no palco, com o torso nu
pintado de batom, foi atrás da
música. Gostou. Não foi só isso:
ficou fascinado pelo ocultismo
em que o cantor acreditava.
"Minha mãe gosta da música,
mas não muito desse papo", diz
ele, que quer estudar mais as letras místicas de Raul, que escreveu com Paulo Coelho.
Para Caio, a maior mensagem encontrada nas músicas é
"faça o que tu queres, pois é tudo da lei", de "Sociedade Alternativa". "Mas ele sabia que tudo tinha consequências", diz.
O fã "headbanger" diz que vai
chegar às 18h em ponto na Virada, com uma amiga, e ficar
até acabar. "Ficar é bem fácil."
Se ficar é fácil, ir pode ser difícil. Deiverson Franz, 17, diz
ser, possivelmente, o único fã
de Raul entre os cerca de 10 mil
habitantes de Nova Trento
(SC). Vai encarar oito horas de
estrada para ver o show.
Além de comprar toda a discografia do roqueiro com o dinheiro que ganha fazendo molduras, Deiverson também adotou o sobrenome "Seixas" para
tudo -menos no RG.
"Eu tinha o cabelo parecido
com ele, mas acabei de cortar!",
diz. Foram-se os fios, ficou a
roupa: inspirado por Raul, ele
usa calça jeans e óculos Ray-Ban o tempo todo.
Afirma que irá ao show vestido assim, antes de confirmar o
preço do ingresso. Ao ficar sabendo que a Virada é gratuita, solta um: "Nossa! Então é tipo
uma "Sociedade Alternativa'".
Tipo a comunidade hippie do
cantor, 20 anos depois e com
público renovado pelo tempo.
E ai de quem atrapalhar o som
gritando a famigerada frase:
"Toca Rauuul!".
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