São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 2002

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MÚSICA

Livro revê a história do país por meio de letras de canções

Encantos do Brasil cantado

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudar história não precisa ser, como muitos pensam, uma coisa chata, baseada no conhecimento dos fatos importantes de um determinado período e de suas repercussões políticas, econômicas e sociais. Dois professores acabam de produzir uma boa alternativa no livro "Brasil Século 20 - Ao Pé da Letra da Canção Popular". Escrito pela professora de geopolítica Luciana Salles Worms e pelo professor de português Wellington Borges Costa, o Wella, o livro conta com o poder de sedução das grandes canções da música brasileira. Conciso em sua apresentação da história do Brasil, o livro tempera os acontecimentos mais relevantes do século passado com letras de música e com diversas histórias protagonizadas por músicos brasileiros. A obra é dividida em cinco períodos. "Normalmente, a estética fica subordinada à história. Nesse livro, decidimos fazer uma divisão pela estética", explica Wella. Assim, os capítulos acabaram batizados de "Maldito Violão", "Bendito Violão", "Maldita Guitarra", "Bendita Guitarra" e "Videoclipe e MP3". "Maldito Violão" engloba o período que vai da República Velha ao fim do Estado Novo em 1945. No plano da música, trata do nascimento do samba até a era do rádio, mostrando a relação conflituosa entre o estilo e os governos da época. "No começo, era proibido tocar violão. A polícia prendia quem estivesse com o instrumento. Por isso o nome "Maldito Violão'", conta. No segundo capítulo, que trata do breve período democrático brasileiro, ocorrido entre a renúncia de Getúlio Vargas (em 1945) e a de Jânio Quadros (em 1961), o violão se torna bendito. "É a época do aparecimento da bossa nova, quando as meninas de boa família passaram a trocar as aulas de piano pelas de violão", diz Wella. Nesse capítulo, a discussão sobre a inserção do Brasil na esfera de influência dos Estados Unidos, traduzida, na política, pelo "entreguismo", também se repete na música, quando a bossa nova, que assimila elementos do jazz, enfrenta a oposição daqueles que defendiam o samba "puro". Depois, é a vez do regime militar até a anistia em 1979, enfocando a ruidosa introdução da guitarra elétrica na música popular. Fala da jovem guarda, do nascimento do tropicalismo e da canção de protesto. Os anos 80 -período de transição do regime militar para a democracia- são analisados no capítulo "Bendita Guitarra", época em que o rock brasileiro conquistou espaço. O último capítulo analisa a década passada. No plano histórico, fala do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello e do governo Fernando Henrique Cardoso. "Usamos esse capítulo para falar um pouco da questão da globalização." Na música, fala-se da entrada da MTV no país e da onipresença de expressões popularescas, como o axé, o sertanejo e o pagode. Em São Paulo, alunos do Colégio Santa Maria experimentam na prática o que é aprender a história do Brasil usando a música. O colégio oferece uma aula optativa enfocando o período republicano por meio da música para alunos da segunda e terceira séries do ensino médio. "Os alunos que optam por fazer essa disciplina passam a perceber os diferentes ritmos, os diversos instrumentos e se envolvem bastante ao analisar a poesia das letras, contextualizando a música em termos de autoria e de história da época", diz o professor Roberto Catelli Junior, 35, responsável pelo curso. Para ele, isso faz com que os alunos aprendam a usar outra linguagem para falar de uma disciplina como a história.



"Brasil Século 20 - Ao Pé da Letra da Canção Popular"
Autores: Luciana Salles Worms e Wellington Borges Costa
Editora: Nova Didática
Quanto: R$ 34



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